Transnístria, Somalilândia, Sealand... Os países que “não existem”
- Henry Lisak
- 25 de mai. de 2023
- 5 min de leitura
Me lembro que sempre que voltava para a escola depois das férias, eu me reunia com meus amigos pra conversar sobre o nosso descanso, e alguém sempre perguntava: “Pra onde vocês viajaram?”. Se te respondem algo como Estados Unidos, França e Japão, você provavelmente sabe onde fica e talvez até já tenha ido para algum deles. Agora, se alguém me respondesse que foi passar férias na Transnístria, eu com certeza teria ficado bem confuso, afinal eu tenho certeza de que não existe um país com este nome. Ou será que existe? É exatamente sobre isso que vou tratar neste texto: os países que “não existem”!
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), existem hoje 193 países no mundo. Entretanto, este número é valido unicamente para a ONU, já que para a Fifa, por exemplo, existem 211. E se considerarmos que mesmo a Fifa não contempla todos aqueles que se consideram um país, a lista poderia crescer. Para que um país seja de fato considerado uma nação independente, este deve ganhar o reconhecimento de um número elevado de nações. Entretanto, como o reconhecimento de um país depende do ponto de vista de uma pessoa ou país que analise a situação, pode ocorrer de uma pessoa reconhecer um país e outra não. Por exemplo, mesmo que a Coreia do Sul não é reconhecida pela Coreia do Norte, e que a Coreia do Norte não é reconhecida nem pela Coreia do Sul e nem pelo Japão, como ambos são reconhecidos por muitos países, é extremamente improvável que você encontre algum dia alguém que negue a existência de um ou do outro. Agora, se você perguntar para algum residente do Irã se eles reconhecem a existência de Israel, muito provavelmente essa resposta será um “não”, afinal boa parte dos países de maioria muçulmana não reconhece a existência de Israel como país independente. Isso ocorre também com Kosovo, e assim por diante.
Porém, nesse texto quero tratar especificamente de coisas ainda mais malucas e menos faladas, como uma plataforma marítima que se declarou independente da Inglaterra, um prédio em formato de bola no meio de um parque de diversões na Polonia que afirma ser um país soberano, e um pedaço de um país que afirma ser independente e se autoproclama como “a nova União Soviética”.
O primeiro caso que citei, da plataforma marítima, é chamado de Sealand (traduzido do inglês como “terra do mar”, por estar no meio do canal da Mancha, que separa o Reino Unido da França), e fica localizado na costa do Reino Unido (que, aliás, é um país formado por quatro países – Inglaterra, Escócia, Gales e Irlanda do Norte – podendo ser classificado como mais um país “bizarro e diferente” da nossa lista), e que é habitado por um sargento inglês se instalou na antiga plataforma e declarou sua independência após a Segunda Guerra Mundial, que obviamente não foi reconhecida por ninguém.
O segundo caso citado, do prédio com formato de bola, é chamado de Kugelmugel, que significa “campo esférico” em alemão, justamente por ter o formato de uma bola. Ele fica localizado no meio do famoso parque Prater, em Viena, Áustria, e se declarou independente após seu fundador se revoltar com o pagamento de impostos ao governo austríaco. Apesar de ninguém reconhecer tal independência, o edifício é cercado fortemente e possui um “controle de fronteiras” na sua entrada.
O terceiro caso que já citei trata-se da Transnístria (que significa literalmente “além do rio Dniestre”), e é tecnicamente independente, já que a Rússia auxilia esta região a ter soberania própria. Aliás, tal ajuda é feita unicamente porque esta região se autoproclamou socialista, e serve para a Rússia estacionar tanques, por exemplo, como forma de ameaças à Ucrânia na guerra. Falando em Ucrânia, as regiões que compõe Donbass (região que causou a guerra), Donetsk e Luhansk, se declararam independentes pouco antes da guerra, e tiveram apoio russo, por serem regiões ucranianas com grande parte da população sendo russa (que é exatamente o argumento russo para a invasão desta região).
A própria Rússia também possui regiões que são separatistas, ou seja, que se declaram independentes e lutam por isso. Este é o caso da Chechênia, do Tartaristão, do Daguestão, de Carachai-Circássia, de Cabárdia-Balcária e da Calmúquia, localizados na região do Cáucaso, além de Kaliningrado (que fica em um enclave, ou seja, um pedaço do país que está no continente, mas não faz parte da parte principal do país – por exemplo, o Alasca é tecnicamente um enclave dos EUA), localizado entre a Polônia e a Lituânia.
Existem outros enclaves que já se declararam independentes, “fizeram as pazes” com seu país, mas as vezes ainda possuem movimentos separatistas, como é o caso de Cabinda, parte de Angola localizada entre os dois Congos, e que hoje é parte da nação Lusófona, mas já foi independente.
No continente africano, onde há várias guerras prolongadíssimas em curso, há situações também de regiões separatistas, sendo que algumas delas até conseguiram sua independência, como foi o caso do Sudão do Sul (que deixou de ser parte do Sudão) e de Djibuti (que era parte da Etiópia), enquanto outras ainda lutam por sua soberania, caso do Saara Ocidental, que é parte do Marrocos, mas se considera independente, e também o caso da Somalilândia, que apesar de ter soberania sob o próprio território, não foi reconhecido por nenhum país, e sendo considerada portanto uma região autônoma, que seria mais ou menos como um país dentro de outro país, que é o mesmo caso dos 4 países que fazem parte do Reino Unido, além de algumas outras ilhas e enclaves parte do país insular, caso de Ilha de Man, Jersey, Guernsey, Gibraltar, e outras ilhas localizadas no Caribe e que são parte do Reino Unido. Tal classificação também vale para Hong Kong e Macau (que são parte da China), e pode ser uma das formas de classificar Taiwan (também da China), que é considerado para muitos um país independente.
Há ainda regiões que se declaram independentes, mas que não possuem soberania, não são reconhecidas por nenhum país, e que têm conflitos ou até mesmo guerras para tentar se separar de seu país atual, caso da Catalunha e do País Basco (ambos parte da Espanha, que apesar de não estar em guerra com eles, acaba muitas vezes tendo conflitos para resolver nestas regiões), do Curdistão (com partes do que consiste hoje a Turquia, a Síria, o Irã e o Iraque), da Abecásia e de Ossétia do Sul (parte da Armênia hoje), de Nagorno – Karabakh (parte do Azerbaijão), do Chipre do Norte (localizado no Chipre), e do Tibete (que foi incorporado pela China no século XX).
Por fim, há ainda a situação da Palestina e de Kosovo, que são tão complexas que não consigo nem classificar de alguma das formas que classifiquei outras regiões. A Palestina é um caso complicado, já que possui regiões onde exerce total autonomia (como Gaza e partes do território chamado de palestino), regiões onde possui administração mista com Israel, e regiões controladas majoritariamente por Israel (já que caso estivesse sob domínio palestino, muito provavelmente serviria de abrigo para terroristas do Hamas, como já acontece hoje – em menor escala – mesmo sob controle dos israelenses), e desta forma fica difícil definira situação da região. Kosovo é outro caso complicado, já que o governo sérvio não reconhece sua independência, porém a maior parte dos países do mundo o reconhece como independente (com exceção da Espanha, por exemplo, que se o reconhecesse como tal, provavelmente sofreria com guerras internas pela independência de suas províncias separatistas).
Referências:
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