A história das ilhas ameaçadas de desaparecimento
- Jovem Político
- 4 de jul. de 2022
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No final de 2021, durante COP 26, Hon Simon Kofe, ministro de Justiça, Comunicação e Relações Exteriores de Tuvalu, uma pequena nação insular no meio do Oceano Pacífico, fez seu discurso dentro do mar. O motivo? O país, bem como muitos outros ao seu redor, corre o risco de afundar e desaparecer completamente dentro de aproximadamente 100 anos.
Uma das muitas consequências do aquecimento global é o aumento do nível do mar. As duas causas para esse fenômeno, ambas diretamente ligadas às maiores temperaturas, são o derretimento das geleiras e a expansão das águas marítimas. De acordo com pesquisadores do Centro de Voos Espaciais Goddard da NASA, desde 1993 a água já subiu cerca de 10,23 centímetros. Enquanto esse valor pode parecer pouco significativo para a maioria das pessoas, a longo prazo ele representa uma ameaça às ocupações humanas no litoral, em especial das ilhas localizadas no Pacífico.
Em sua maioria desconhecidos por grande parte das pessoas, arquipélagos como Kiribati, Tuvalu, Nauru, Palau, Ilhas Marshall, Ilhas Cook e Ilhas Pitcairn são países que correm risco de sumirem ao longo do século. Essas ilhas, por serem em sua maioria faixas estreitas de terra, sofrem profundamente com aumentos leves no nível do mar, em especial durante tempestades, que invadem suas casas como se o país estivesse sendo engolido. Em 2018, por exemplo, um furacão fez com que Nauru, em sua totalidade, submergisse, isto é, a ilha literalmente desapareceu do mapa por um intervalo curto de tempo.
Para além das inundações, conforme a água avança sobre o território, o solo fica contaminado pelo sal, acabando com as plantações das quais as comunidades locais dependem. Uma vez que as reservas de água subterrânea também são contaminadas, os países passam a depender completamente da água da chuva para se abastecerem, mesmo que o regime de chuvas seja insuficiente para tal. A isso se soma o aumento da desidratação consequente das maiores temperaturas. Dependendo cada vez mais de importações, os moradores não conseguem arcar com os altos preços dos alimentos e morrem de fome.
Além disso, o aquecimento global também exerce mudanças profundas na biodiversidade marinha local, bem como na saúde dos peixes dos quais os moradores dependem. Desse modo, tem havido um aumento no número de casos de intoxicação consequente da ingestão de peixes contaminados por bactérias, sobrecarregando o sistema de saúde precário da região.
Frente à situação, deixar as ilhas tem sido a escolha de muitas famílias em busca de melhores condições de vida. Aqueles que o fazem inauguram a categoria de refugiados climáticos - pessoas que se mudam por conta de problemas decorrentes das mudanças climáticas. Já houve, inclusive, uma série de negociações entre os governos dessas ilhas e o de países próximos como Nova Zelândia acerca do recebimento desses imigrantes. Ainda assim, o tema é polêmico. Lutando por sua integridade, os políticos de Tuvalu já rejeitaram publicamente propostas dos governos da Austrália e de Fiji de realocar sua população em território estrangeiro - para além do desejo de conservar seus países, há uma consciência ambiental por trás da recusa, uma vez que se mudarem não irá acabar com as mudanças climáticas. A opção, portanto, é tida como um último recurso caso as coisas se tornem verdadeiramente irreversíveis.
Apesar disso, a região tem tido que lidar com uma fuga de cérebros significativa, uma vez que os mais jovens estão mais abertos a se mudarem dadas as perspectivas de futuro. As gerações mais velhas, em contrapartida, carregam um receio muito grande da perda da tradição e da cultura locais.
Dentro de um cenário de incerteza, ameaça constante, perda frequente e nenhuma perspectiva de futuro, a saúde mental dos moradores dessas ilhas é onde os problemas se apresentam de forma mais significativa. Para além da desesperança, a ida de muitos conhecidos e vizinhos para a diáspora contribui para uma sensação de desamparo e falta de pertencimento pela comunidade ser tão instável. Assim, nos últimos anos tem havido um aumento preocupante nos quadros de depressão e ansiedade nessas regiões.
Para piorar, justamente por serem regiões mais vulneráveis, faltam recursos para fortalecer as construções contra o avanço das águas e fornecer suporte médico e psicológico à população que sofre por conta das mudanças climáticas.
O caso das ilhas do Pacífico explicita algo que acabou se tornando um padrão no que tange às mudanças climáticas: o fato de que as principais vítimas da destruição do meio ambiente são os países que menos contribuíram para tal. Na linha tênue entre o reversível e o irreversível no que tange às mudanças climáticas, essas populações resistem e seguem na luta pelo direito de existirem.
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