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Barbie: um fenômeno feminista | Por: Artur Miranda

  • Foto do escritor: Artur G. Miranda
    Artur G. Miranda
  • 3 de set de 2023
  • 3 min de leitura


O novo filme da Barbie causou muitas polêmicas em torno de questões de gênero. Muitos disseram que este se tratava de um filme anti-homem. Ainda que o tom satírico da obra seja sua marca mais forte, será que há brecha para acusar o filme disso? Devo avisar de antemão que haverão alguns spoilers. Vamos discutir isso.

O filme começa num mundo matriarcal controlado por barbies autossuficientes e poderosas e kens subservientes, sem valores próprios ou senso de identidade. Esse cenário, ao invés de uma defesa da sociedade matriarcal, revela um diagnóstico filosófico e sociológico da nossa sociedade atual. Comparações na internet foram várias em relação ao filme de Greta Gerwig e as obras de Simone de Beauvoir, que tratam da relação de inferioridade que as mulheres têm com os homens na nossa sociedade. As mulheres, assim como os Ken, só possuem valor na medida em que existem em função do outro. São, assim, o Segundo Sexo (título do aclamado livro da filósofa supracitada).

Para além da discussão sobre relações de gênero no filme, também temos a discussão sobre padrões de beleza, mulheres reais-mulheres ideais e existencialismo. A primeira aparece em diálogos de Barbie com sua “dona” (a dona de sua boneca no mundo real”, Sasha, que traz a questão dos padrões que a Barbie acaba representando para meninas, sempre muito acima de qualquer realidade. A segunda se constrói ao mostrar a Barbie, ainda em seu mundo (Barbielândia), começando a se tornar cada vez mais real, achatando os seus pés (que antes eram curvados) e tendo celulites. O ápice da virada de boneca para mulher vem com pensamentos existenciais sobre a mortalidade.

Enquanto a Barbie, no mundo real, passa a se tornar cada vez mais consciente dos problemas que uma mulher passa, conforme passa por diversas experiências típicas de uma sociedade machista e conversa com outras mulheres desta realidade, Ken, seu antes namorado submisso, passa a perceber que sua condição enquanto homem, antes no lugar de Segundo Sexo, se torna um privilégio e passa a preencher a existência dele por completo. Quando Barbie volta para o mundo das Barbies, percebe que os Kens haviam tomado o poder e tornado o sistema em um patriarcado. Ela, junto com a sua dona e outras barbies e o Allan, voltam o poder para suas mãos e restaura o matriarcado na sociedade. Ela conversa com Ken e ambos se reconciliam, entendendo que a independência e a busca de sentido individual é o caminho mais correto a se tomar.

As discussões trazidas pelo filme são muito maduras e vão para além do clichê feminista dos cinemas. É uma análise descontraída e poderosa sobre as relações de poder e (e através do) gênero na nossa sociedade, construindo a crítica que uma sociedade patriarcal ou matriarcal são baseadas na exclusão de um gênero do protagonismo de suas próprias vidas, o que ocasionalmente trará conflitos à sociedade. Ademais, a conclusão existencialista de buscar construir sua própria história de forma horizontal e individual, sem oprimir, excluir ou necessitar vitalmente de outro é muito filosoficamente requintada.

Conclui-se portanto que Barbie é um filme de comédia cult, bastante descontraído em seu estilo, mas profundo em suas análises e críticas. Um prato cheio para discussões diversas e que certamente guarda um espaço nos futuros cults. É um clássico moderno feminista, produto de uma obra madura e sagaz.

 
 
 

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