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“CADÊ OS YANOMAMI?”: terras indígenas e garimpo ilegal

  • Cecília Pessoa
  • 10 de mai. de 2022
  • 3 min de leitura

É muito provável que você tenha se deparado com essa pergunta pela internet nos últimos dias. A frase, que repercutiu nas redes sociais após posts de famosos como Whindersson Nunes, Anitta e Alok, faz referência à uma comunidade indígena da etnia yanomami onde, apenas alguns dias após uma denúncia de estupro e homicídio, a comunidade foi deixada em chamas e nenhum de seus habitantes foi encontrado.

Tudo começou na terça-feira dia 26 de abril, quando Júnior Hekurari Yanomami, líder yanomami, publicou em suas redes sociais um vídeo onde denunciava um evento ocorrido no dia anterior na comunidade yanomami Aracaçá, na região de Waikás. “Me falaram que os garimpeiros invadiram a comunidade, levaram uma mulher e uma adolescente. A adolescente tinha 11, 12 anos de idade. Os garimpeiros violentaram e estupraram ela, [levando ao seu] óbito.”, afirmou, clamando pela ajuda das autoridades para lidar com o ocorrido. Ele ainda afirmou que os garimpeiros haviam levado uma criança, que estaria desaparecida dentro do rio Uraricoera.

Em pouco tempo, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, em conjunto com a Fundação Nacional do Índio (Funai), enviaram uma comitiva ao local onde costumava ser a comunidade. De acordo com Hekurari, uma das lideranças indígenas incluídas na comitiva, porém, afirmou que “Ao chegar no local avistamos a comunidade em chamas e sem a presença dos moradores indígenas no local”. No dia seguinte, a comitiva divulgou uma nota onde afirmou não haverem indícios de estupro ou homicídio no local, incluindo da morte da criança no rio. Dada a gravidade da situação, porém, as investigações persistem.

Mas quem teria queimado a comunidade? A principal acusação circulando nas redes sociais seria de que os garimpeiros seriam os responsáveis, e teriam agido como vingança pela denúncia ou como modo de impedir que mais detalhes fossem fornecidos à polícia. Em seu relato, Hekurari afirmou que alguns dos índios apareceram cerca de 40 minutos após a chegada da comitiva e, após muita insistência, “relataram que não poderiam falar, pois teriam recebido 05g de ouro dos garimpeiros para manter silêncio.” Em nota, Hekurari acrescentou: "Percebe-se, através dos vídeos que esses indígenas, foram coagidos e instruídos a não relatar qualquer ocorrência que tenha acontecido na região, dificultando a investigação da Polícia Federal e Ministério Público Federal (...)". Há ainda quem afirme que os indígenas estão escondidos nas florestas do território yanomami, fugindo dos garimpeiros.

Apesar disso, há uma suspeita de que os próprios índios teriam incendiado o local. Frente às informações reunidas pela comitiva, vários indígenas se reuniram no dia 29 para discutir o que poderia ter acontecido. Pela manhã, o Condisi-YY divulgou uma nota onde afirmaram ser costume, após a morte de um ente querido – no caso, a menina estuprada - incendiar o local onde morava e todos se mudarem.

Embora as circunstâncias da queimada ainda estejam nebulosas, não se pode ignorar o avanço e o impacto do garimpo ilegal em terras indígenas. A comunidade Aracaçá, palco desse evento, tem sido especialmente prejudicada pela prática nos últimos anos.

De acordo com um relatório da Hutukara Associação Yanomami (Hay), publicado apenas duas semanas antes da denúncia de Hekurari, o garimpo ilegal avançou 46% na região durante o ano passado, sendo a região de Waikás, onde a comunidade ficava, o a região onde há o maior crescimento anual.

O relatório também tratava de violência sexual, o disparador das tensões recentes, através de um relato onde se afirmava que “garimpeiros oferecem comida em troca de sexo com adolescentes indígenas”. O documento ainda acrescenta que Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) têm se tornado comuns nas comunidades com o aumento dessa forma de violência: “Anteriormente, as mulheres Yanomami não tinham a doença do abdômen (...) Portanto, nós Yanomami não conhecíamos essas doenças “warasi” que deixam lesões na pele (...) Agora, depois que os garimpeiros catadores de ouro (...) começaram a ter relações com as mulheres, aprendemos o nome desta doença.”.

Um outro problema descrito no relatório é a destruição de comunidades através da introdução de álcool e drogas por parte dos garimpeiros, motivando o desespero por alimentos e aumentando a violência dentro da comunidade: “(...) os garimpeiros introduziram bebidas e um “pó branco” que deixaram os Sanöma viciados, alterados e violentos (...) resultando em muitos episódios de violência entre os de Aracaçá. (...) os Sanöma deixaram de abrir roças e hoje dependem da alimentação oferecida pelos garimpeiros em troca de serviços, como carregar combustível e realizar pequenos fretes de canoa.”

Independente dos fatores particulares ainda desconhecidos que conduziram os acontecimentos em Waikás na última semana, as tensões entre os povos indígenas e os garimpeiros ilegais é um problema sério que vem escalando muito nos últimos anos, e cujo produto é pura violência.

https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/yanomami-sob-ataque-garimpo-ilegal-na-terra-indigena-yanomami-e-propostas-para

https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2022/04/26/comunidade-de-menina-ianomami-estuprada-e-morta-esta-tomada-por-garimpo-e-vive-desordem-social.ghtml

https://twitter.com/JYanomami/status/1518780905573265408

https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2022/04/25/terra-yanomami-numeros-mostram-maior-devastacao-causada-pelo-garimpo-em-30-anos.ghtml

https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2022/05/03/cade-os-yanomami-o-que-se-sabe-e-o-que-falta-esclarecer-sobre-comunidade-queimada-apos-denuncia-de-morte-de-menina.ghtml

https://midianinja.org/files/2022/04/nota-condisi-yy-1080x1528.png

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/04/aldeia-onde-menina-yanomami-teria-sido-estuprada-e-encontrada-queimada.shtml

 
 
 

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