Napoleão Bonaparte - a linha tênue entre um déspota cruel e um revolucionário | Laura Oliveira
- Laura Oliveira
- 21 de mai. de 2023
- 3 min de leitura
Por Laura Oliveira De Carvalho
Considerado um dos homens mais temidos e, consequentemente, respeitados em suas duas décadas de poder, Napoleão Bonaparte permanece sendo um divisor de águas entre cidadãos de todo o mundo, enquanto alguns acreditam que ele seja um gênio político e revolucionário, outros pregam que o antigo imperador da França estava mais para um déspota belicista, uma pessoa insana e no mínimo, cruel. Para alguém que já faleceu há cerca de 200 anos, Napoleão permanece como uma figura misteriosa, dividindo opiniões mesmo depois de tanto tempo.
Há dois anos houve uma grande polêmica envolvendo Napoleão Bonaparte e a comemoração do bicentenário de sua morte na França. Em 2021, com a aproximação do dia 5 de Abril, não só a França como também a ilha de Santa Helena – local onde faleceu o ex-imperador – enfrentou algumas discordâncias, enquanto uns acreditavam que Napoleão deveria ser considerado um herói e uma lenda intocável, outros relembravam todas as crueldades cometidas por ele em vida. Existem muitas teses e contradições a cerca desse tema em específico, porém é importante ressaltar que o próprio julgamento de uma figura histórica através da moralidade moderna, é um ato imoral.
Uma das maiores problemáticas envolvendo Napoleão Bonaparte é relacionada a restauração da escravidão nas colônias francesas, um direito antes concedido pelo período jacobino que foi revogado pelo imperador e gerou muita desaprovação, especialmente na sociedade atual. Porém, quando pensamos pelo lado histórico não deveria ser uma surpresa que um imperador ligado aos ideais burgueses fosse voltar com uma prática que era responsável pelo maior lucro nas atividades comerciais da burguesia. A mão de obra escrava gerava para o burguês um gasto menor com os trabalhadores e um maior rendimento na produção, alinhando menores custos com maior produção e consequentemente gerando um lucro maior do que seria feito com uma mão de obra assalariada. E dizer que não há surpresa em suas ações, não significa que essas ações sejam moralmente aceitáveis também, porém naquela época – e ainda nos dias de hoje – se provar uma pessoa genuinamente boa nunca garantiu poder a ninguém, e para um imperador de um reino em ascenção como era o caso da França, ele deveria ter muitas qualidades, mas bondoso não deveria estar como prioridade.

Um jeito interessante de analisar Napoleão Bonaparte e suas ações é pelo ponto de vista de dois sociólogos que estavam vivos na mesma época que o ex-imperador e fizeram considerações sobre ele, sendo eles Karl Marx e Tocqueville. Enquanto o primeiro tinha uma visão mais crítica à Napoleão, Tocqueville já acentuava a importância do imperador para a França, mesmo julgando algumas de suas ações.
Outra pessoa da época que detém uma visão bem interessante sobre Napoleão é Germaine de Staël, uma política franco-suiça. Em uma de suas análises, ela diz:
“a partir do momento em que sua alma tornou-se tão miserável a ponto de não ver grandeza exceto no despotismo, foi talvez impossível para ele continuar sem guerras contínuas; para o que seria um déspota, se não ter glória militar em um país como a França?”. Nesse contexto, podemos dizer que Napoleão Bonaparte utilizou da conquista militar como forma de glorificação, percebemos isso nas chamadas Guerras Napoleônicas até que seu exército é derrotado na Rússia. Uma derrota que foi garantida através da estratégia, não da força, considerando as táticas utilizadas pelo exército russo em deixar o território livre de recursos que poderiam ser utilizados pelos franceses para se manterem, principalmente no inverno rigoroso.
Além disso, ela também agumenta que a instabilidade nacional exigia conquista estrangeira, se perguntando se “uma nação poderia ser oprimida no interior sem lhe dar a fatal compensação de governar outro lugar por sua vez?”. Outra situação que fica muito clara no período napoleônico, onde o déspota se aproveitou da instabilidade política, social e econômica advinda da Revolução Francesa para se alinhar a camada burguesa da sociedade, aplicar um golpe de estado e assumir a República Francesa. Depois de se autocoroar imperador da França, Napoleão deu início às conquistas territoriais, invadindo os países de maneiras extremamente violentas, e muitas vezes sem uma estratégia eficiente, visando apenas o combate.
De maneira geral, Napoleão Bonaparte é uma figura histórica detentora de inúmeras polêmicas, pois apesar de ser reconhecido como um renomado imperador francês, ele cometeu atrocidades que, querendo ou não, eram necessárias para a manutenção de seu poder na época. Por ser um antigo militar,o ex-imperador focava sua influência por meio da dominação de outros países e povos, formando inimigos em seu caminho que, futuramente, vão provocar sua derrota. Além disso, é importante lembrar que Napoleão entrou como imperador principalmente pela burguesia, e portanto a representava, o que acaba desfavorecendo a classe trabalhadora da França. No geral, a postura adotada por Napoleão pode ser considerada legítima naquele contexto levando em conta a busca pela estabilidade política francesa juntamente com o benefício da burguesia, mas não para a garantia dos direitos do povo.
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