Por que Lula insiste em abaixar os juros? Por: Artur Miranda
- Artur G. Miranda
- 11 de jun. de 2023
- 3 min de leitura

A discussão econômica brasileira tende a ser bastante explosiva e cheia de bordões complicados. Uma das questões do dia é: aumentar, reduzir ou deixar como está a taxa de juros brasileira? De um lado, temos economistas defendendo que deixar como está é melhor, e que existem problemas mais cruciais para discutir no cenário brasileiro atual. Do outro, temos economistas que enxergam as taxas elevadas como um entrave para o desenvolvimento econômico brasileiro. O que está por trás dessas justificativas? Por que Lula e parte dos economistas que o apoiam insistem em abaixar os juros? Vamos lá…
Os juros são, de forma bastante simplista, o preço que se paga por pegar emprestado dinheiro dos bancos. Os investidores (aqueles que provêm o dinheiro para o banco) buscam aumentar sua renda através do lucro que eles ganham ao investir seu dinheiro. Esse lucro é captado através dos juros, que são a taxa adicionada ao dinheiro que se empresta ao tomador (aquele que pega o empréstimo). No Brasil, a taxa está chegando aos seus 14%, o que é altíssimo em comparação a países de alta renda como a Alemanha, que está nos seus 3%.
O governo Lula, que defende uma taxa mais baixa de juros, argumenta em via do crescimento e dos investimentos. A lógica é a seguinte: quando os juros estão mais baixos, empresários e empreendedores conseguem captar mais investimentos e fazer empréstimos com menos custo, o que gira a economia e supostamente gera mais desenvolvimento econômico. A população brasileira também consome em maior quantidade, o que pode ocasionar no aumento do PIB.
Contudo, economistas como Marcos Lisboa argumentam que a taxa dos juros (o instrumento em si) não gera desenvolvimento a longo prazo. Na verdade, podem ocasionar no aumento da inflação se forem baixos demais em condições adversas (uma inflação já alta, baixa poupança por parte da população), uma vez que a baixa de juros tem efeito positivo no consumo. A demanda gerada pela baixa dos juros se choca com a oferta, o que ocasiona no aumento dos preços. Quanto mais gente consumindo, maiores os preços se tornam, para compensar.
Outro argumento contrário ataca a concepção do desenvolvimento através de ferramentas macroeconômicas como controle da taxa de juros. Essas políticas têm efeito de curto prazo, e certamente impactam a vida dos brasileiros. Mas para construir uma economia realmente capaz de se desenvolver, existem outros aspectos muito mais importantes a se discutir: política fiscal funcional e confiável, educação de qualidade. Além do mais, a confiança dos investidores é quebrada com juros baixíssimos, já que seu lucro se perde. Ainda assim, esse debate não se acaba. Outros economistas, como Laura Carvalho, trazem também o aspecto distributivo para a questão. Uma política de taxa de juros altíssima aumenta as desigualdades econômicas dentro de um país.
Em vista dos debates feitos, pode-se entender a estratégia do Lula de buscar pressionar uma baixa dos juros como falha e perda de tempo. O governo tem reformas estruturais na economia que são mais importantes para o futuro produtivo e econômico brasileiro. Isso se não tocarmos na questão política, uma vez que Lula não tem qualquer força ou influência relevante no congresso ou no banco central para mudar as taxas (ou a presidência do BC). O foco deve ser a reforma fiscal (que avança com o arcabouço fiscal) e a transição verde.
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