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Sportswashing

  • cecipessoa
  • 15 de mar. de 2023
  • 3 min de leitura

Nos últimos anos o termo “Sportswashing” se popularizou na internet. Da Alemanha nazista à Copa do Mundo da FIFA, o conceito se aplica em muitos contextos, não só na atualidade como ao longo da história.

Mas, afinal, o que significa “Sportswashing”? A palavra faz referência à prática de grupos, empresas, países ou até mesmo indivíduos que usam o esporte como uma ferramenta para melhorar sua imagem. Uma presença marcante de um time nacional em campeonatos internacionais, por exemplo, pode transmitir uma mensagem de exaltação, comprometimento e disposição de um governo para com o bem-estar da população, distraindo a atenção mundial de possíveis infrações dos direitos humanos que possam estar acontecendo dentro do próprio território nacional.

Um dos primeiros exemplos desta prática foi o da Alemanha nazista, que encontrou na oportunidade de sediar as olimpíadas de 1936 um modo de esconder o holocausto do olhar público. Para enfrentar as acusações e suspeitas de crimes contra a humanidade, os nazista abriram as portas do país para “inspetores” estrangeiros, controlando minuciosamente as visitas para que nada fosse descoberto, impedindo-os, por exemplo, de conversar com quaisquer atleta judeu.

Outro exemplo foi o da Copa do Mundo de 1978, sediada na Argentina, que foi usada como camuflagem para o violento regime militar no qual o país se encontrava.

O exemplo mais falado ultimamente, porém, foi o da Copa do Mundo no Catar. O pequeno país do Oriente Médio tem como principal produto econômico o petróleo, proveniente das abundantes reservas em seu território nacional. Justamente por isso, a nação vem passando por um processo de abertura maior para o comércio. O local, porém, é regido por uma monarquia islâmica desde o século XIX, propiciando um ambiente no qual certos valores polêmicos são pregados.

Em 2004 o governo catari iniciou um processo de investimentos grandes em esporte, que culminou com sua seleção como sede da Copa do Mundo de 2022 em 2010. Alguns anos mais tarde foi revelado que tal escolha só ocorreu por conta do investimento de 800 milhões de euros por parte do governo em propinas para compra de votos. E assim teve início uma estratégia gigantesca de propaganda positiva do Catar. Em 2011, o governo adquiriu o time europeu Paris Saint-Germain, proporcionando sua ascensão como um dos melhores times da atualidade. A companhia aérea estatal, Qatar Airways, patrocina boa parte dos melhores clubes de futebol do mundo além de várias competições de futebol como a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol).

Por baixo dos panos, porém, a situação era muito menos gloriosa. O país é, historicamente, anti-LGBTQIA+, tendo qualquer expressão homossexual entendida como crime e podendo acarretar em até sete anos de prisão. Além disso, as mulheres são entendidas como seres inferiores que devem ser submetidos a homens, o que na prática significa que a elas não são concedidos direitos como a liberdade de ir e vir sem a autorização do marido. Na realidade, as mulheres catarianas são impedidas de trabalhar, estudar e até mesmo realizarem exames médicos sem a aprovação masculina. O grande problema, porém, diz respeito aos próprios preparativos da Copa do Mundo. Os funcionários da construção eram, em sua maioria, estrangeiros submetidos ao kafala, um sistema no qual o imigrante era obrigado a se submeter às vontades de um padrinho catari, tendo suas liberdades cerceadas. Após o sistema ser abolido em 2020 como resultado da pressão internacional, foram publicados diversos relatórios feitos por ONGs que revelaram a persistência da violação dos direitos humanos com estes trabalhadores, chegando inclusive a levar muitos deles à morte.

Frente a todas essas problemáticas, os próprios atletas de países como a Austrália fizeram posicionamentos públicos contra o evento. Apesar de tudo, a propaganda positiva milionária superou a negativa, e a associação entre Catar e esporte “limpou” a imagem do país. Como resultado da Copa do Mundo, a tendência é que o Catar receba muito mais turistas ao longo dos próximos anos, movimentando ainda mais sua economia.






https://www.thetimes.co.uk/article/revealed-qatars-secret-880m-world-cup-payments-to-fifa-p3r5rvw9x?region=ie

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2022/11/04/O-que-%C3%A9-sportswashing.-E-qual-sua-rela%C3%A7%C3%A3o-com-a-Copa-do-Qatar

https://ge.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/sportswashing-o-que-a-compra-do-newcastle-ensina-sobre-essa-palavra-que-ganha-cada-vez-mais-espaco-no-futebol.ghtml

https://einvestidor.estadao.com.br/comportamento/sportswashing-qual-relacao-copa/

https://www.megacurioso.com.br/educacao/124240-sportswashing-como-os-governos-usam-o-esporte-para-esconder-seus-podres.htm

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63755964

https://www.cnnbrasil.com.br/esporte/entenda-como-e-a-vida-para-as-mulheres-no-catar-e-os-direitos-que-elas-tem/

https://www.cnnbrasil.com.br/esporte/copa-do-mundo-entenda-as-denuncias-sobre-direitos-humanos-contra-o-catar/

https://www.forbes.com/sites/dominicdudley/2022/03/18/bahrains-critics-push-sports-washing-claim-ahead-of-start-of-formula-1-season/?sh=6d41559426e7

 
 
 

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