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TUPI OR NOT TUPI: O IMPACTO DA ANTROPOFAGIA E A SEMANA DA ARTE MODERNA NO BRASIL

  • Foto do escritor: Luci Garcia
    Luci Garcia
  • 3 de jul. de 2022
  • 3 min de leitura

Alguns dias atrás, a cantora brasileira Anitta chegou ao primeiro lugar do Top 50 Spotify Global Songs, se tornando uma das artistas mais ouvidas do mundo. Ela falou em uma entrevista que pretende trazer mais cultura brasileira e da América Latina à suas novas músicas mesmo morando em outros lugares. Pode parecer uma coincidência que uma artista brasileira tenha esse grande reconhecimento nacional em 2022, mas a verdade é que ela vem seguindo um legado muito antigo da arte do modernismo brasileiro que nasceu várias décadas atrás chamado antropofagia.


* O termo, vem da junção das palavras gregas “anthropo”, que significa homem e “phagía”, que é comer. * Em outras palavras, a antropofagia é o ato de ingerir carne humana, popularmente conhecida como canibalismo. A antropofagia registrada historicamente está diretamente ligada a várias culturas do mundo inteiro, desde a desesperação dos habitantes europeus em momentos de fome até as tribos africanas como sinal de vingança entre povos inimigos mas, em nenhum lugar o ritual era tão complexo e sagrado como nos povos do litoral brasileiro.


* Lá, os povos Tupis e seus vizinhos consideravam o ato de comer um guerreiro pertencente a um grupo inimigo era um ato divino. Não era só uma questão de impor medo aos seus adversários mas também uma questão de respeito e admiração: eles acreditavam que ao ingerir o corpo do terreiro rival, eles estariam incorporando suas características, como a bravura e a coragem do guerreiro derrotado. * O ato horrorizou os primeiros colonizadores e várias gerações de brasileiros e veio depois, ignorando o conceito de relativismo cultural e a futura importância que iria trazer durante a primeira metade do século XX…


* O ano de 1922 foi perfeito para uma revolução artística brasileira, não tinha finalizado a Primeira Guerra Mundial e as vanguardas modernistas brilhavam com sucesso na Europa, mas também, se celebravam exatamente 100 anos desde a proclamação da Independência. *


Os filhos de burgueses enriquecidos pela recente industrialização brasileira eram mandados à Europa para estudar arte, sendo ensinados por vários mestres da pintura e literatura que influenciaram não só suas técnicas artísticas mas também suas ideologias sociais. * A arte brasileira era influenciada fortemente pelas culturas estrangeiras com seu movimento literário mais popular no momento sendo o Parnasianismo, um movimento importado da França que buscava celebrar o ideal da arte usando exclusivamente o padrão da norma culta e a ausência de qualquer compromisso social. * Mas o sentimento de patriotismo e apreciação pela cultura brasileira estava se esquentando, fortalecido pela comemoração de um século após a independência do país, o que levou esses artistas a buscarem uma forma de apreciação da cultura já existente no Brasil levada para um palco internacional.


* Assim, entre os dias de 11 a 18 de fevereiro de 1922 aconteceu a famosa Semana da Arte Moderna onde artistas de todas as categorias de áreas expuseram seus trabalhos parodiando os trabalhos rebuscados do Parnasianismo e expondo arte para promover uma mudança radical na linguagem e formato artístico existente. * Os principais representantes foram a pintora expressionista Anita Malfatti, o poeta Mário de Andrade, o escritor Oswald de Andrade, a pintora e escultora Tarsila do Amaral e o jornalista Menotti del Picchia.


Esse foi só o começo do modernismo brasileiro. * Em 1928 Oswald de Andrade publicou seu “Manifesto Antropofágico" na revista de Antropofagia. A estrutura do texto foi baseada no Manifesto Futurista, do italiano Filippo Tommaso Marinetti, e toma como ponto de partida o quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral. Inspirado nos rituais tupis que vimos anteriormente, o conceito de antropofágico aqui diz respeito à "deglutição" dos estilos e modelos internacionais além de serem “ingeridos” pelos brasileiros para produção de algo totalmente novo e com a cara do país, combatendo o eurocentrismo da arte. *


A antropofagia artística queria anular as distâncias entre a oralidade e a escrita, usando linguagem coloquial e glorificando a história do país com suas heranças mímicas e seus cânticos populares. O movimento não fugia de comentários e críticas sociopolíticas na sua arte com várias personagens utilizando suas pinturas e livros para retratar suas ideologias e queixas do mundo.


Historiadores dividem o modernismo em três principais fases e enquanto ninguém pode definitivamente concluir quando a terceira terminou (alguns falam anos 60 e outros anos 80), é claro para todos que suas características e mensagens continuam estando presentes na arte contemporânea de hoje em dia. Afinal, embora tudo tenha começado com as pinturas de Anita Malfatti, continua com as músicas da Anitta moderna.

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