A indústria pornográfica
- Jovem Político
- 28 de set. de 2021
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Engels, em “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”, defende a ideia de que a exploração da mulher pelo patriarcado surgiu com a noção de propriedade e é a forma mais antiga de exploração do mundo. De fato, a relação entre propriedade e o gênero feminino ainda pode ser observada com grande força atualmente, como na objetificação e idealização extrema das mulheres. A indústria Pornográfica é um exemplo perfeito disso: mulheres são exploradas e traficadas para a criação de um conteúdo idealizado e machista, que, não só cria falsas expectativas em relação ao corpo feminino, mas também ao próprio sexo. Assim, a pornografia, além de criar vícios indesejados em vídeos adultos e masturbação, pode ser considerada uma ferramenta de alienação, fetichização e objetificação da mulher.
Segundo o Relatório de Anistia Internacional, o tráfico humano é uma das formas ilegais mais lucrativas do mercado mundial. Dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho) mostram que mais de 32 bilhões de dólares foram movimentados pelo tráfico de pessoas em um ano. Además, estimativas do Instituto Europeu para o Controle e Prevenção do Crime mostram que aproximadamente 98% das vítimas de tráfico humano no mundo são mulheres, as quais permanecem em cárcere privado e chegam a trabalhar mais de 13 horas por dias no mercado de sexo. Essas mulheres sofrem consequências inumanas constantes, como a exposição a doenças sexualmente transmissíveis, o uso forçado de drogas para manterem-se despertas, o ataque físico e sexual por ambos os clientes e os aliciadores, ameaças de vida e a necessidade de pagar dívidas com os cafetões com o próprio dinheiro.
A indústria multimilionária utiliza o corpo feminino como mercadoria, realizando sua compra, venda e disposição para fins sexuais direcionados somente ao gênero masculino. Aquilo apresentado nos vídeos adultos divulgados representam o sexo e a mulher de forma idealizada e completamente errada, levando a população masculina a criar expectativas irreais sobre o corpo, a atitude feminina e o sexo em geral. Os padrões físicos na pornografia chegam a beirar a infantilização: magreza extrema, sem estrias, pelos, ou celulite. Além disso, as mulheres são comumente retratadas como submissas e nunca dizem não, o que influencia consciente e inconscientemente a atitude dos homens em relação ao corpo feminino e às relações sexuais. O ser humano tem um tipo de neurônio, chamado neurônio espelho, que serve para adquirir conhecimentos teóricos e replicá-los na vida real, assim, aqueles que assistem videos pornográficos com muita frequência estão mais sujeitos a querer imitá-los com um parceiro. Todos querem tornar suas fantasias realidade, porém nem sempre a fantasia é compartilhada, levando a uma maior tendência à abusos sexuais e estupros.
Outro tópico pouco discutido em relação à indústria pornográfica é o vício, o qual afeta física e psicologicamente os homens, influenciando suas relações sociais, sexuais e sua saúde mental. O vício em pornografia se dá de forma semelhante às técnicas de treino de comportamento para animais baseadas em um sistema de recompensas. Para ensinar um cachorro, por exemplo, a dar a pata é necessário recompensá-lo, geralmente com comida, quando ele realiza a ação corretamente. Essa técnica funciona pois a comida libera a dopamina, que é popularmente conhecida como o hormônio da felicidade, fazendo o cachorro associar esse bem estar com a ação de dar a pata. Da mesma forma, o consumo de pornografia e a consequente masturbação liberam dopamina no cérebro humano, criando a necessidade extrema (vício) de consumir cada vez mais esse tipo de conteúdo e a depressão e mal estar quando não podem.
Atualmente, o consumo de pornografia tem aumentado a níveis preocupantes, um relatório feito pela Netskope Security Cloud no primeiro semestre de 2020 mostra que o acesso a sites pornôs aumentaram em 600% por conta da pandemia, assim pode-se esperar que as implicações discutidas ao longo do texto também aumentem. Torna-se imprescindível promover mais discussões e visibilidade ao assunto de forma a amenizar suas consequências.
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