A PANDEMIA E SUAS IMPLICAÇÕES NO TRÁFICO HUMANO!
- 11 de fev. de 2022
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Imagine acordar em um lugar escuro, em um país desconhecido. Você não sabe onde está ou que dia é, e as únicas coisas que você vê são quatro paredes, uma porta e um homem andando em sua direção. Você está com medo, não sabe se ele vai te estuprar ou até mesmo te matar. Isso é algo que nenhuma criança, mulher ou homem deveria passar. Contudo, isso foi algo que ocorreu com 20 adolescentes em Dallas, e, infelizmente, não foi um caso isolado. Existem milhares de histórias como essa acontecendo em todo o mundo há muitos anos, e essa realidade foi profundamente afetada pela pandemia da COVID-19, trazendo mais impunidade aos traficantes e tornando os traficados cada vez mais vulneráveis. Por isso é importante conhecermos o que é o tráfico humano - que pode ser definido como "recrutamento, transporte, transferência, abrigo ou recebimento de pessoas, por meio de ameaça ou uso da força ou outras formas de coerção, de rapto, de fraude, de engano, do abuso de poder ou de uma posição de vulnerabilidade ou de dar ou receber pagamentos ou benefícios para obter o consentimento para uma pessoa ter controle sobre outra pessoa, para o propósito de exploração". - Nesse texto você irá descobrir quatro das principais implicações da pandemia da COVID-19 para o tráfico humano:
- Aumento da vulnerabilidade das principais vítimas:
No rol de vulnerabilidade frente ao tráfico de pessoas podemos destacar as mulheres e crianças como os principais “alvos” desse crime. Sobretudo, com a pandemia, muitas mulheres se viram isoladas em suas casas, a mercê de homens violentos ou até mesmo perdidas sem possibilidade de mudança de vida, fato que faz com que elas acabem enxergando as falsas promessas dos traficantes como uma fuga a sua realidade. As crianças, por sua vez, destacam-se como vítimas neste cenário pandêmico principalmente por estarem afastadas das escolas, local que oferecia segurança, abrigo e alimentação àquelas que passam por diversas dificuldades em casa. É de consenso geral que a rua acaba sendo o refúgio dessas crianças quando as escolas estão fechadas, e na rua elas tornam-se cada vez mais suscetíveis a serem traficadas.
- Surgimento de novas formas de atrair as vítimas:
A globalização e o desenvolvimento tecnológico certamente reduzem a distância física, e é inegável que esse desenvolvimento pode ser um aliado no controle e prevenção de crimes, incluindo o tráfico de pessoas. No entanto, esse “encurtamento” também é uma possibilidade de expansão do crime organizado. Se, no passado as vítimas do tráfico de pessoas eram recrutadas por “conhecidos”, hoje elas também são “seduzidas” por completos estranhos nas redes sociais por meio de promessas de uma “vida perfeita”. Essa rede criminosa pode ter sido um tanto quanto afetada pela pandemia da COVID-19, em um momento em que muitas pessoas se viam vulneráveis, tanto financeiramente como mentalmente. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) a pandemia levou à extinção de cerca de 255 milhões de empregos somente em 2020. Além disso, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde 4 entre 10 brasileiros relataram ter problemas com ansiedade, e os sintomas agravados durante a pandemia. No Peru a depressão aumentou em cinco vezes e no Canadá os níveis de ansiedade quadruplicaram, todos esses são resultados dos efeitos da pandemia na saúde mental da população mundial.
- Sobrecarga de trabalho e falta de EPIs:
Com essa nova era de máscaras, vacinas e lockdowns muitos dos agentes de segurança que eram responsáveis pela fiscalização do tráfico humano acabaram tendo sua “atenção” voltada para a inspeção do distanciamento social, tão necessário durante a pandemia. Mesmo sendo algo de extrema importância, essas medidas acabam tornando-se mais um trabalho designado à profissionais, os quais muitas das vezes sobrecarregados e exercendo diversas funções sem a devida remuneração por todas as suas atribuições. Além disso, muitos desses oficiais se veem atuando sem os equipamentos sanitários básicos para manter sua própria segurança, os EPIs, como máscaras e luvas. Pode parecer simples, mas esse tipo de equipamento torna-se primordial para que se possa lidar com as vítimas e com os traficantes, minimizando os riscos de contágio.
- Fechamento das fronteiras:
A propagação da COVID-19 em escala global e seus efeitos negativos em várias dimensões impactaram as relações humanas, comerciais, econômicas, políticas e os fluxos nos espaços geográficos. No que tange o fluxo de pessoas, muitas fronteiras tiveram que ser fechadas, como uma tentativa de amenizar a propagação do vírus. Essa medida foi outra ação que gerou consequências no tráfico humano, agora, ao invés de ser um tráfico de predominância “internacional”, ele acabou tornando-se “nacional”, e ocorre, principalmente, entre os limites territoriais da própria nação. No entanto, o fechamento das fronteiras internacionais pode ser considerado um dos únicos pontos de mudança que ocorreram durante a pandemia como um entrave a ações das quadrilhas de tráfico humano, uma vez que a fronteira, ao ser fechada, inviabiliza o deslocamento para outros países. Sendo também uma nova possibilidade de identificar os traficantes que insistirem nesse tipo de translado.
NOTA FINAL DA AUTORA: É importante ressaltar que a cada 800 vítimas do tráfico humano, apenas 1 traficante é capturado. A impunidade faz parte de um ciclo lucrativo, já que, de acordo com dados divulgados pela ONU, o tráfico humano é o terceiro crime mais lucrativo, perdendo apenas para o tráfico de armas e drogas. Essa lucratividade é um dos principais fatores que fomentam a existência de um crime horrível como esse. Mas sua existência está também atrelada ao fato de que o homem tem demonstrado cada vez mais a capacidade de enxergar o outro como uma mercadoria, que pode ser comercializada de acordo com os interesses do mercado. Infelizmente essa lógica de mercado não foi alterada pela pandemia da COVID-19, visto que o tráfico de pessoas continua a ocorrer. É de meu total entendimento que o mundo todo teve que se adaptar a essa nova era de pandemia e que mudanças tiveram que ser feitas. Entretanto, é de extrema relevância analisarmos as consequências que essas novas ações geraram em crimes que já ocorriam antes da pandemia.
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