A RELAÇÃO INTRÍNSECA DA SOCIEDADE COM O FUNK!
- Jovem Político
- 11 de nov. de 2021
- 3 min de leitura
Pode-se dizer que toda música é um reflexo de um corpo social que a produziu. Nesse sentido, é possível afirmar que a música é, portanto, uma forma de expressão social que diversas vezes exprime os desejos e as angústias da sociedade em que está inserida. A música, neste contexto, é um reflexo cultural que utiliza de diferentes temas para descrever a realidade de determinado lugar, seja por meio de denúncias, questionamentos ou pela descrição de sentimentos intrínsecos ao ser humano. Como um reflexo cultural, podemos discorrer sobre a “evolução” da música utilizando para isso exemplos, como a música “Cálice”, de Gilberto Gil e Chico Buarque. Escrita em 1973 e lançada em 1978 a canção faz uma crítica à ditadura militar implantada no Brasil por meio da sonoridade da palavra cálice em consonância com o termo “Calar-se”. É uma música de protesto que estampa, por meio de metáforas e do uso do duplo sentido, a violência e a repressão impostas pelo governo autoritário que estava no poder. Sua apresentação foi censurada durante o primeiro contato do público com a música em um show, quando “possíveis” problemas técnicos foram relatados, para justificar a suspensão do som no momento da apresentação do mesmo. Da mesma maneira ocorreu com o funk “Eu só quero é ser feliz”, lançado em 1995 por Cidinho e Doca.
A palavra “funk” ou “funky” é uma referência ao gênero musical que teve origem nas comunidades afro-americanas na década de 60. Os músicos dessas comunidades criaram uma nova forma de ritmar o soul e o jazz. Era uma maneira de mostrar a necessidade de mais força no ritmo das músicas. O funk é um gênero musical que apresenta características próprias como uma batida marcante, letras populares e/ou eróticas e sempre uma “dança” (coreografia) que acompanha a letra. O gênero chegou ao Brasil no final da década de 70 e foi, inicialmente, um movimento produzido na periferia e que tinha como público alvo as comunidades do Rio de Janeiro, sendo, portanto, um movimento da periferia para a periferia.
Nesse sentido, suas letras são uma forma de retratar a realidade dessas comunidades, mesmo que nos dias atuais o gênero tenha se difundido por todo o território nacional. O funk já sofreu inúmeras críticas, pois suas letras podem ser consideradas uma forma de apologia às drogas, prostituição e uso de armas, ou por apresentarem um teor machista ao se referir à figura feminina, e essas acusações são verídicas! Entretanto, conforme foi citado anteriormente, a música é uma forma de expressão da sociedade que a produz, então como o funk poderia ser diferente se ele é um reflexo da realidade de seus compositores? O(a) MC (autor(a)/cantor(a) do estilo musical funk) fala em suas letras aquilo que é vivenciado na favela, portanto seria no mínimo contraditório se ele/ela escrevesse sobre “coisas bonitas” se sua realidade não é composta por isso. Essa é a importante critica social presente no funk, a denúncia realizada por meio das letras!
Ao longo dos últimos anos o funk foi ganhando um imensurável cenário no Brasil, mas isso não impediu que o estereótipo de ruim fosse desvinculado a esse gênero musical. Muitas vezes não nos referimos ao gênero como música, como se o mesmo não estivesse inserido na arte que é produzir música. Um exemplo emblemático é o da cantora Anitta, que no início de sua carreira não se referia às suas composições como funk, e sim pop, ultilizando o mesmo como uma espécie de “máscara”, justamente por conta do preconceito gerado em torno deste estilo musical. Atualmente o gênero movimenta milhões na indústria da música, um exemplo é o Canal Kondzilla no YouTube que tem mais de 64 milhões de inscritos, e é o maior canal brasileiro da plataforma.
O funk é um gênero musical que busca trazer referências de sua realidade como uma inspiração para suas letras, mas como todo gênero musical ele está condicionado às diferentes formas de interpretação que as pessoas dão às suas músicas. O cunho pejorativo com que muitas vezes as letras são interpretadas é algo que leva ao preconceito contra esse gênero musical. Por isso é preciso cuidado para que não seja realizada somente a crítica pela crítica, sem que haja uma reflexão sobre as letras, bem como sobre a realidade absurda que elas denunciam. É necessário pensar como essas músicas “colocam o dedo na ferida” mostrando o quanto a realidade brasileira vem sendo maltratada pela desigualdade social, política e econômica que assola nosso país!
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