Como eu passei pela depressão
- Helena Serafin
- 14 de set. de 2021
- 3 min de leitura
Eu sempre fui muito alegre, expansiva e aberta com o que sentia e pensava. Sempre fui de sair, ir para festas, encontrar com amigos e fazer tudo que a vida permitisse.
A ansiedade começou a pegar no meu pé em 2019. Sabe quando estamos em uma festa e o som está muito alto? Tão alto que não se consegue pensar com clareza, já que esse barulho faz com que não ouçamos nossos próprios pensamentos? Essa sensação, essa agonia, eu tinha às vezes. Meus pensamentos eram como um looping de coisas que não tinham nem começo nem fim, só existiam. Tem um livro, “Tartarugas até lá embaixo”, que fala sobre ansiedade e usa loopings para definir crises e pensamentos ansiosos (quem quiser entender, recomendo muito!). Quando isso acontecia, eu só pedia para parar, e, eventualmente, parava. Nunca dei bola pra isso, achava normal.
Corta para março de 2020, ansiedade a milhões. Esse sentimento veio se transformando em medo da tão chamada doença, a Covid-19. Eu sentia falta de ar, como se meus pulmões fossem explodir e não conseguissem fazer seu trabalho. Assim, depois de muitas crises de ansiedade e ataques de choro, comecei a fazer terapia e tomar medicamentos para a ansiedade (que são antidepressivos de baixa “carga”). As coisas melhoraram, eu estava vivendo os dias de glória! Até que vieram os verdadeiros dias de luta. Em novembro, tive uma recaída. Não comia nem fazia nada que não fosse ver TV e estudar. Enquanto isso, o medo de ficar doente e pegar covid só crescia. Isolada dos amigos e da maior parte da família, eu só piorava. Até que comecei a ficar tão mal que tive que recorrer aos remédios para dormir. Esses remédios, de acordo com minha psiquiatra, tiram a tensão que a ansiedade nos proporciona. Porém, no momento que a ansiedade diminuiu, foi como se tirassem um esparadrapo de um machucado muito feio.
Assim, sem tantos pensamentos ansiosos, a depressão veio como uma avalanche. Meus pensamentos me diziam que nada valia o esforço. Por que comer, se depois irei ter fome novamente? Por que tomar banho, se eu vou me sujar depois? Por que viver, se um dia eu vou morrer? E aí apareceram os pensamentos suicidas. A gente acha que nunca vai acontecer com a gente, que é muito distante, mas não é. Eu comparo a vida e a morte com uma linha. Tem gente que está muito longe dessa linha, com segurança e certeza que nada de ruim vai acontecer. Pessoas depressivas não veem sentido em viver, o que as faz ficar perto da linha. O que as deixa assim não é vontade de morrer, mas sim a necessidade de acabar com uma dor tão grande que a única saída parece ser ir para o outro lado. Não podemos julgar quem está assim. Não é uma opção dessas pessoas estar doente, é algo que acontece, e poderia ser com você. Com ajuda de terapia, remédios, minha família e amigos, consegui sair do buraco que foi meu ápice da depressão. Meu recado para você, que leu até aqui, é pensar antes de julgar. Antes de julgar o colega afastado do trabalho, pense no que ele pode estar passando. Antes de julgar o menino quieto da turma, converse com ele e veja se está tudo bem. Pequenos atos salvam vidas, e com certeza pequenos atos foram o que salvaram a minha vida.
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