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Efeitos da Pandemia na Terceira Idade

  • Foto do escritor: Antonio Motyole
    Antonio Motyole
  • 7 de jul. de 2021
  • 3 min de leitura

Tenho uma péssima notícia. Existe um fato que talvez você já conheça, mas não pense muito a respeito. Talvez até sinta na própria pele. O fato em questão é: vamos todos, se tudo der certo, envelhecer. Você mesmo, que foi cuidado por alguém nos primeiros momentos, voltará a precisar de cuidados nos últimos. Portanto, é essencial que falemos sobre a vida da terceira idade, ainda mais durante uma pandemia, não somente por ser um grupo de risco da COVID-19, mas também por ser um grupo de risco da solidão, depressão, abandono e negligência, tanto a nível interpessoal como estatal.


Não passa por supresa como “morar sozinho” e “envelhecer” são considerados os fenômenos demográficos mais relevantes pelos pesquisadores da área; nesse sentido, a junção desses dois fatores se dá na frequência do “suicídio gerontológico”. De acordo com a metanálise - da Universidade Federal do Piauí - “Suicídio entre idosos no Brasil: uma revisão de literatura dos últimos 10 anos”, fica claro como o ato suicida por idosos está diretamente relacionado a sentimentos desde a solidão à morte social - cuja sensação de incapacidade, devido a limitações físicas e psicológicas, impedem os idosos de exercerem suas respectivas profissões.


Aplicando ainda um filtro de gênero às estatísticas, os dados de 2015 revelam que o suicídio é cometido de três a quatro vezes mais por homens do que por mulheres, devido às situações como o desemprego que contribuem para com esse sentimento de inutilidade e perda do sentido da vida, que, por sua vez, tem como consequência o isolamento em casa. Tal exemplo é extremamente devastador ao considerarmos que os papéis de gênero da nossa sociedade colocam o homem como o provedor e controlador de suas emoções, o qual não ocupa a casa para preservar a sua masculinidade, com efeito de: “quando o indivíduo ingressa na velhice e vê esse papel sendo direcionado a outra pessoa, observa-se emanar sentimentos de solidão” - Minayo e Cavalcante, 2010. No caso das mulheres, os pesquisadores ressaltam que situações comuns nas suas vidas como a perda da autonomia, submissão, uma vida sexual baseada na reprodução ou rejeição dos filhos podem trazer a morte como escapatória desse sofrimento durante a terceira idade.


Mas e hoje em dia? Sim, precisamos falar desses tempos malditos de pandemia (e prevaricação). Dado o exposto sobre o suicídio masculino, não seria ingênuo esperar que os homens fossem os mais emocionalmente afetados pela pandemia, entretanto, de acordo com a pesquisa “Idosos no contexto da pandemia da COVID-19 no Brasil: efeitos nas condições de saúde, renda e trabalho”, 57,8% da população idosa feminina relatou sentir frequentemente solidão comparada a 41% da masculina. Devido a isso, o próprio artigo ressalta possíveis alterações nesses números, dado que “podem ser consequência da carga que a mulher tem no cuidado do ambiente domiciliar, aumentado durante a pandemia, quando muitas idosas são responsáveis pelos cuidados dos netos e/ou marido […]” e esteriótipos de gênero, os quais levam as mulheres a serem mais expressivas.


Em sequência, a pandemia também possui claramente um impacto econômico nos idosos. A pesquisa afirma que 52,4% dos idosos com vínculo empregatício mantiveram sua renda, enquanto 80% dos que não possuíam foram negativamente afetados, sendo que a diminuição de renda afetou mais aqueles com renda per capita domiciliar menor do que um salário mínimo. Dessa forma, a alta desigualdade e o risco de cair à pobreza pela perda da renda ou pensões insuficientes obriga os idosos a continuarem trabalhando, mesmo após a aposentadoria, apontando a uma fragilidade demonstrada nessa pesquisa devido aos altos índices de atividades informais.


Em sua discussão, os pesquisadores deixam claro como garantias trabalhistas são fatores decisivos para garantir condições de vida dignas e que a ausência desses vínculos durante a pandemia está relacionada ao aumento da vulnerabilidade econômica brasileira, a qual figura desde 2014. Não podemos também ignorar o sentimento de solidão, sendo que este é um preditor importante de mortalidade, podendo antecipar a morte e outros agravos na saúde. Finalmente, a recomendação é clara: criar sistemas de proteção socioeconômica para idosos, como políticas de proteção social (exemplo: renda mínima) para, pelo menos neste momento, mitigar os efeitos da perda de renda e, consequentemente, possíveis complicações psicossociais.

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