Igualdade De Gênero, dois pontos de vista.
- Jovem Político
- 21 de set. de 2021
- 9 min de leitura
Atualizado: 21 de set. de 2021
Igualdade de gênero é alcançável?
De acordo com dados fornecidos pela ONU (2018), seis mulheres morrem a cada hora em todo mundo vítimas de feminicídio – assassinato proposital pelo único fato de serem mulheres. Isso equivale a aproximadamente 144 mulheres mortas por dia, 1.008 por semana, 4.380 por mês e 52.560 por ano! Tais dados nos levam a refletir, entre outros pontos, sobre a questão da igualdade de gênero. Seria uma realidade nos dias atuais ou apenas uma fantasia. Temos avanços como “Dia Internacional da Mulher”, “Lei Maria da Penha” (Lei nº. 11.340 de 2006) e as “Cotas eleitoras” - Lei nº 12.034 de 2009 que dispõe sobre o quantitativo mínimo de 30% de mulheres nas candidaturas eleitorais, mas será que todas essas leis realmente seriam necessárias se houvesse igualdade de gênero no mundo?
Se pensarmos nas oportunidades que as mulheres têm atualmente, é inegável o fato de que o presente oferece mais oportunidades a nós que o passado recente. Entretanto, é inquestionável também a herança histórica de subjugação que o “sexo frágil” tem enfrentado desde os primórdios da sociedade. Podemos citar como um desses “direitos” a licença maternidade, período concedido às mulheres assim que têm filhos (pelos métodos naturais como uma gravidez ou até mesmo a adoção). Tal direito, apesar de fundamental, acabou ao longo dos anos se tornando também uma espécie de algoz para a ascensão feminina no mercado de trabalho.
Atualmente, no Brasil, a mulher tem direito, perante a lei, de se ausentar do trabalho por 4 a 6 meses recebendo remuneração, enquanto o homem recebe licença paternidade de 5 dias corridos. A licença paternidade foi fixada em 1988, período em que era ainda comum o pai desempenhar o papel apenas de provedor da família, enquanto a mãe era responsável pelos cuidados da casa e das crianças. Contudo, ao pensarmos na sociedade atual, tal licença encontra-se ultrapassada, uma vez que a família deve ser uma responsabilidade compartilhada por seus membros, independente de ser homem ou mulher. As licenças são, portanto, um direito primordial da criança e não devem ser ligadas às características de seus possíveis genitores e/ou guardiões legais.
A desigualdade de gênero é atualmente o grande desafio enfrentado por aqueles que desejam um futuro de equidade, ressaltando que existe uma diferença entre equidade e igualdade: equidade refere-se a “uma determinada situação, onde a justiça prevalece independente de cor, raça, gênero ou idade. É ser imparcial respeitando o direito de cada um”, conceito que ultrapassa o de igualdade!
Sobre isso, é importante reforçar que a questão da mulher é extremamente delicada, uma vez que elas são subjugadas apenas pelo fato de serem mulheres. Em uma matéria publicada em 2021 pelo Correio Braziliense, podemos ter acesso ao relato de mulheres sobre a realidade de desigualdade salarial presente em diferentes empresas no Brasil. Julyhanna Luiza Fernandes, de 25 anos, discorre em sua entrevista sobre esta realidade:
“Eu reclamei, exigi direitos iguais, o meu ex-chefe disse que iria pagar os mesmo para todos os dois, só que eu descobri, por trás, que foi combinado de me enganarem, e ele continuaria recebendo mais que eu.”
Infelizmente esse não é um fato isolado, na verdade, tal realidade permeia a vida profissional de inúmeras mulheres no Brasil. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em dados divulgados em 2019, as mulheres recebiam 79,5% do salário de um homem, mesmo ocupando a mesma função que o mesmo e trabalhando cerca de 4 horas a mais que eles. Ainda assim, esse dado não aborda a questão da jornada tripla de trabalho que muitas mulheres enfrentam, principalmente por serem “impostas” a pior profissão no que tange a gratificação: “dona de casa”, justamente por não ser uma atividade remunerada.

A partir de uma breve análise do infográfico é possível visualizar a discrepância entre o salário de homens e mulheres que exercem a mesma função. Ele nos mostra que a igualdade de gênero esta muito distante ainda da realidade das empresas, principalmente no Brasil. Uma pesquisa divulgada em 2019 pela Bain & Company apontou que apenas 3% dos cargos de liderança de grandes empresas são ocupados por mulheres.
Em países “democráticos”, como o Brasil, o que se “prega” é a igualdade, contudo, nosso histórico misógino tem mostrado que as leis são fundamentais para que as vantagens dos homens perante as mulheres sejam diminuídas. Em 2009 foi instituída a Lei nº 12.034, que normatiza um quantitativo mínimo de participação feminina na política brasileira, nossa política é marcada por um passado coronelista, em que os homens exerciam papel fundamental na construção do país e não havia espaço para a mulher, que ficava relegada a papéis de cuidados da casa e da família. Esta realidade, entretanto, foi mudando em passos lentos uma vez que as mulheres só tiveram direito ao voto em 24 de fevereiro de 1932. Vale destacar que em 1928 tivemos a primeira mulher eleita democraticamente no Brasil: Alzira Soriano foi a primeira prefeita da América Latina – Cidade de Lajes (RN) graças a uma lei estadual que permitia a participação de mulheres na política no estado do Rio Grande de Norte. Ela recebeu 60% dos votos válidos e se tornou tema do Jornal “The New York Times”, mesmo sendo vítima de constantes ataques sexistas.
Pesquisas recentes mostram que, apesar do exemplo histórico de Alzira, a política brasileira esta muito distante de apresentar igualdade no que se refere a ocupação de cargos políticos no país. As mulheres no Brasil representam mais da metade da população, temos uma “representação” de mais da metade das filiações em partidos políticos, somos mais da metade do eleitorado e mães da outra metade. Mas, quando se trata de política, nossa representatividade é baixa. O Brasil está na 140º posição entre os 193 países do mundo quando abordamos o tema mulheres em cargos políticos, principalmente no que concerne as posições ocupadas na Câmara dos Deputados, e ao se tratar dos cargos ministeriais ocupamos a posição 153. Esses dados mostram que, apesar de grande parte das candidaturas serem pleiteadas por mulheres, na realidade, não há uma adesão da população em geral em realmente elegê-las. Mostrando que, na maioria das vezes, essas mulheres estão ali apenas para cumprir a cota obrigatória imposta por lei, as “candidatas laranja”. Nesse sentido, a representatividade de mulheres na política é ainda muito baixa: somente 24% dos cargos de chefia são ocupados por mulheres, e, de acordo com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) o Brasil tem apenas 15% de mulheres em cargos políticos. Isso nos leva a pensar que apesar de estarmos em muitos lugares, não estamos em locais onde as decisões estão sendo tomadas.
Para finalizar é importante ressaltar que o presente é um reflexo histórico de nosso passado. Cronologicamente estamos no século XXI, entretanto, culturalmente é como se estivéssemos ainda sobre os moldes comportamentais de vários séculos passados. Já que somos regidos pelo modo de produção capitalista, cujos defensores são ferrenhos em enfatizar que uma de suas principais características é a possibilidade de igualdade de oportunidades, nada mais justo que colocar em prática o que ocorre no discurso. Nossa proposta é que o leitor conheça os dados sobre o acesso ao mercado de trabalho, principalmente sobre as diferenças entre homens e mulheres. Nosso desejo é que o leitor reflita sobre o seguinte questionamento: A mulher que se torna mãe deixa de trabalhar realmente porque deseja ficar em tempo integral cuidando da casa, dos filhos e do marido? Ou ela deixa de trabalhar, e com isso diminui suas chances de conquistar cargos de chefia, por que os homens não estão dispostos a encarar as responsabilidades de uma família de forma igualitária com suas companheiras?
Nota final da autora: não é nossa intenção entrar em uma discussão sobre identidade de gênero, ou sobre a definição de gêneros binários e não-binários, apesar de reconhecer a necessidade da mesma. Abordamos aqui algumas dificuldades enfrentadas pelas mulheres cotidianamente, principalmente em relação ao mercado de trabalho. Contudo, esta situação de lutas é agravada ao abordarmos as minorias entre o próprio grupo de mulheres, como da comunidade LGBTQIA+, pretas, quilombolas, asiáticas e indígenas. Recomendo que o leitor assista o vídeo “Por que as mulheres ganham menos?”, disponível na plataforma Netflix.
Adhara Macedo Sousa Rahal
Igualdade entre homens e mulheres: Será que a igualdade em posições de poder entre homens e mulheres e a igualdade salarial é algo atingível?
Desde a primeira onda do movimento feminista, uma das várias reivindicações de suas seguidoras é sobre a inserção de mulheres em cargos altos e importantes nos seus trabalhos e, principalmente, na política. Segundo as feministas, poucas mulheres em cargos de poder é um fenômeno que acontece devido à sistemática machista e patriarcal em que vivemos. Mas será que isso é verdade? Para entendermos, vamos analisar a sociedade brasileira do século atual.
A sociedade brasileira não é machista. Ela é composta de milhões de indivíduos, que às vezes podem apresentar comportamentos indesejáveis, mas isso não quer dizer que seja uma regra. Se olharmos para a política nos dias de hoje e de alguns anos atrás, é fácil citar muitas mulheres em alguns dos cargos mais importantes do país e que, na sua maioria, foram eleitas pelo povo - inclusive pelos “homens machistas”: Dilma Rousseff, eleita presidente do país em dois mandatos consecutivos, 2010-2014; Bia Kicis, vice-líder do governo no Congresso, entre 2019 e 2020; Damares Alves, atual ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do governo Jair Bolsonaro.
O fato de tantas mulheres estarem entrando na política e ascendendo em cargos altos dentro de grandes empresas e do Governo se deve principalmente graças ao advento do capitalismo, que ocorreu dois séculos atrás.
O livre mercado, a cada ano que se passa, possibilita a criação de novas tecnologias e a inovação das velhas, assim como melhora a qualidade de vida das pessoas e principalmente das mulheres. Antes do mercado laissez-faire, não existiam eletrodomésticos, como a máquina de lavar, a geladeira, o liquidificador e algumas facilidades que estão presentes no nosso cotidiano. Antes, a vida no campo era difícil e as mulheres não tinham outra alternativa a não ser cuidar da casa e dos filhos. Após a primeira revolução industrial, contudo, pela primeira vez na história, mulheres puderam escolher trabalhos mais seguros, mais bem remunerados e mais perto de casa. Vale notar que as mulheres (principalmente de classes inferiores) sempre trabalharam em vários nichos que o mercado oferecia, mas o que busco ressaltar é o poder e leque de escolhas que existem no presente.
Não existe um número igual de homens e mulheres em cargos de prestígio e provavelmente nunca existirá porque, por mais que as mulheres possam escolher as profissões que bem entendam, a maior parte ainda prefere ficar no lar e cuidar dos filhos. Segundo uma pesquisa realizada pelo Ibope em 2013, 55% das mulheres que trabalham e possuem filhos no Brasil, gostariam de largar seus empregos e serem do lar.
Uma outra reclamação constante vinda das feministas, ainda em relação ao mercado de trabalho, é sobre as mulheres ganharem menos que os homens. Um dado que muitos já devem ter ouvido, vindo da ONU, é o: “para cada dólar ganho por um homem, uma mulher recebe em média 77 centavos”. Se espalhado fora de contexto, como na maior parte das vezes, e sem mais informações, o mercado parece muito injusto para com as mulheres, quando na real, não é.
Esse estudo, assim como vários outros espalhados mundo afora pelo movimento, são muito abrangentes. Os pesquisadores identificam o salário médio bruto anual dos homens e comparam com a média do das mulheres. O resultado é justificável, pois, como os fatos indicam, as mulheres tendem a escolher trabalhos com cargas horárias menores, fazem pausas nas carreiras - com os nascimentos dos filhos, quando muitas decidem abandonar o mercado de trabalho durante um longo período, ou até mesmo definitivamente — e, além disso, se aposentam mais cedo do que a maior parte dos homens.
Elas também acenam e questionam sobre algumas mulheres e homens que ganham desigualmente mesmo quando desempenham a mesma função. O exemplo mais usado é o de Neymar Jr. e Marta - as grandes estrelas do futebol mundial.
Segundo dados coletados em 2017, Marta apresentava um salário anual de 400 mil dólares e 103 gols pela seleção, já Neymar, de 14,5 milhões anuais e 50 gols pela seleção. Isso parece injusto, não é mesmo? Na real, não! O sistema capitalista não é machista, mas sim, justo. Ele não difere gênero, nem raça, nem religião. A sua regra é que: ganhará mais quem vender mais, e, para a surpresa de poucos, Neymar vende muito mais que Marta. Logo, as empresas que o contratam para propagandas e o seu próprio time, por lucrarem mais com sua imagem, podem lhe pagar maiores salários. Já com a Marta, é o contrário, ela vende muito menos. Importante ressaltar que, em vários outros ramos, como o mundo da moda, medicina da família, nutrição e o próprio bodybuilding, é possível notar ambientes que são dominados ou de destaque das mulheres.
Talvez, como analisado anteriormente, o fato de não se ver tantas mulheres na política ou em grandes cargos de empresas quanto homens se deva ao instinto biológico das mulheres, que é cuidar da família, como pode ser observado em vários outros mamíferos. Convido o leitor a pesquisar mais para formar sua opinião sobre o movimento feminista e suas reivindicações. Deixo aqui sugestões de leitura: Feminismo: Perversão e Subversão, Ana Campagnolo; Manual Politicamente Incorreto do Feminismo, Carrie Lukas; O Privilégio de Ser Mulher, Alice Von Hildebrand.
“Facts don’t care about your feelings”, ou “fatos não ligam para os seus sentimentos”, Ben Shapiro.
Maria Luiza Pickler
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