Lula, Roberto Campos Neto e a taxa de juros
- Artur Pacheco
- 11 de abr. de 2023
- 3 min de leitura
Se você assiste aos jornais, já deve ter percebido que a disputa entre Roberto Campos Neto e o presidente Lula não acaba nunca, mas você sabe sobre o que é o conflito e por que ele se prolonga desde antes do início do mandato do atual presidente?
Antes de explicar o conflito em si, é necessário explicar o que são juros reais (já explicamos o que são os juros, e este texto pode ser encontrado sob o título de " O que são juros?", na aba Explicando do nosso site). Basicamente, juro real é a diferença entre taxa de juros e a inflação (que também já explicamos no texto Inflando o seu conhecimento: o que é “Inflação”?, e igualmente é encontrado na aba Explicando). Exemplificando, se você tem um investimento que rende 8% ao ano e a inflação é de 5% no mesmo ano, na realidade, o rendimento real (juro real) dele é de 3%.
Agora, podemos explicar como os juros e a meta de inflação (valor definido como o ideal para a inflação para um dado período de tempo, como por exemplo um ano) são o centro desse conflito.
Essencialmente, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (BC) e membro do Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão superior do Sistema Financeiro Nacional responsável por determinar a meta de inflação e o valor da taxa Selic — taxa básica de juros do Brasil — defende que os juros devem permanecer altos até que o risco de um aumento na inflação deixe de existir. Isso porque a alta de juros faz com que as pessoas peguem menos empréstimos (com juros altos é muito mais caro pegar dinheiro emprestado), assim, a economia roda mais devagar, derrubando os preços, levando a uma queda na inflação.

Por outro lado, Lula, apesar do superávit (diferença positiva entre gastos e recebimentos) de 0,6% do PIB no ano passado, defende que o país deve voltar a crescer. Para tal, acredita que a taxa de juros deve ser reduzida, permitindo o aumento do poder de compra do povo e, consequentemente, um crescimento constante do país, ignorando completamente a existência de uma alta taxa de inflação por aqui. O momento atual faz com que os juros estejam mais propensos a aumentos, já que no mundo estão subindo rapidamente, trazendo essa mesma tendência para o Brasil.
Fato é que Lula não se incomoda apenas com os altos juros, mas também com a falta de poder sobre o BC. A autonomia do Bacen foi sancionada durante o governo Bolsonaro e tem como objetivo impedir práticas político-eleitorais, as quais, em curto prazo, podem trazer aparentes benefícios à economia e à população, mas no longo, geram inflação descontrolada e crise. Não precisamos pensar muito longe para observar tais efeitos, já que, durante o governo Dilma, foi exatamente o que aconteceu.
Como disse o economista Fabio Giambiagi, esta é uma situação em que a ordem dos fatores altera o produto. Com isso, ele quer dizer que abaixar os juros para aumentar o movimento na economia nacional antes de combater a inflação será mais problemático no futuro do que realizar o procedimento inverso. Portanto, fica evidente que hoje é mais correto manter as taxas de juros altas, sem modificações na "canetada". Roberto Campos Neto e o Conselho Monetário Nacional deixaram claro que farão aquilo que tecnicamente for mais eficaz, assim como comunicado após a reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) do dia 23 de março, onde eles concordaram pela manutenção da taxa em 13,75% ao ano.
Artur Pacheco e Henry Lisak - 23/03/2023
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