Manipulação de mídia e liberdade
- Carolina Schramm Sá
- 10 de abr. de 2023
- 3 min de leitura
Por um espectro, temos uma imagem propagada de que somos livres, de que somos completamente donos de nossas ideias. Todavia, no atual sistema econômico e contexto político, estaríamos efetivamente libertos em nossas próprias concepções?

Vamos considerar também, que a proliferação de ideias das classes dominantes, pode ocorrer na verdade, de forma imperiosa e manipuladora. Quando adota-se em geral, uma postura conformativa, onde a hierarquia social é desejável, e a dominância por consequência é natural, as ideias de quem acumula poder e capital prevalece. O monopólio, abominado, transita do estado para as grandes corporações, e estas fulminam os preceitos que as mantém funcionando.
Ao analisar as "Big Techs", grandes empresas de tecnologia centrais no mercado, pode-se analisar o direcionamento de seu trabalho ao acúmulo de dados. Esse acesso, permite o domínio dos setores, tendo caráter anticompetitivo e formando assim um monopólio. As 5 notáveis de tecnologia são nomes bastante familiares como Apple, Amazon, Alphabet (Google), Microsoft e Meta (antigo Facebook). Visto isso, em 2020, a Câmara dos Deputados dos Estados Unidos convocou executivos das gigantes de tecnologia para análise do seu abuso de poder, onde invadiam a privacidade do usuário, forçavam pequenas empresas a submissão e aniquilavam a concorrência, para manter o condicionamento de sua dominância em nome do lucro. Havendo assim, um comportamento que busca controle às custas do usuário, exacerbando a desigualdade.

A mídia sustenta esse foco lucrativo, incentivando o consumismo. Essa postura, tendo raízes vinculadas a Revolução Industrial, e tendo uma ampliação com a emergência do American Way Of Life (estilo de vida americano), em 1910, coloca a felicidade como proveniente dos meios materiais. Assim sendo, o glamour de uma vida vitoriosa e
"liberta" padronizou os consumidores a desejarem o que os queriam vender. A televisão passou a ser um elemento indispensável, ditando ainda mais padrões de vida e beleza. Como consequência, esse excesso levou a crise de 1929, com a superprodução.

O fenômeno manipulativo da mídia também é explorado pelos filósofos Adorno e Horkheimer, na teoria da indústria cultural. A arte naturalmente, teria um papel de expressão, crítica e posicionamento. Contudo, o objetivo capitalista transformou a produção de cultura em mercadorias, padronizando-as em guias de pura passividade, disseminando a preservação do sistema e desarticulando as forças de classes, impedindo percepção critica, que sempre fora, em certo aspecto, a essência da arte.

Presenciamos também, uma onda de Fake News, levando a conclusões imprecisas dos eleitores sobre seus candidatos, e disseminação de um conhecimento raso e errôneo. O estudo da Universidade de Oxford “Desafiando a Verdade e a Confiança: Um Inventário Global da Manipulação Organizada nas Mídias Sociais”, considera que ações partidárias atentam moldar notícias na internet, sendo uma ameaça à democracia. Em nosso contexto atual brasileiro, vemos de exemplo a contestação do resultado da atual eleição de 2022, enquanto legitima e assegurada pelo Tribunal Superior Eleitoral. Essa Fake News, que circula em redes digitais como WhatsApp, teve como consequência atos antidemocráticas em mal julgamento, como a invasão do congresso e devastação de patrimônio. Tudo com base em Fake News.
Isto posto, acredito na necessidade de reconhecermos por vezes nossa ilusão de liberdade, para então aguçar nosso senso crítico e reavaliar o que valorizamos. Devemos usar, em nosso alcance, mecanismos confiáveis de informações e aferir profundeza ao que consumimos online. Assim, não tão facilmente sucumbiremos as concepções sistemáticas, ao involuntariamente torná-las nossas próprias.
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