O lucro da pandemia: aqueles que ganhavam, enquanto milhares morriam
- 14 de dez. de 2021
- 3 min de leitura
“Lucro”. Aposto que essa é uma palavra que você não escuta tem um tempinho, ainda mais associado à pandemia. Mas seus olhos não te enganam, você leu corretamente: vim hoje discutir um pouco os lucros dessa pandemia. Mais especificamente, falar sobre aqueles que ganharam e cresceram durante esse desastre que foi o começo da década de 2020.
Você não está errado se já viu em algum lugar algo relacionado à “a pandemia ajudou a mostrar como problemas econômicos e crises sociais enriquecem os ricos e empobrecem os pobres”. Isso é completamente verdade! A desigualdade social no Brasil nunca esteve tão grande e tão marcada, algo que ficou muito evidente durante os meses de distância, medo e incertezas.
E por que isso aconteceu? Em poucas palavras, a opção de oportunidade. Enquanto estávamos dentro de casa, o valor de ações subiu exponencialmente. Ou seja, aquelas pessoas que já tinham condições econômicas bem estabelecidas tiveram a oportunidade de investir durante a quarentena, e lucrar cada vez mais e mais. Porém, outros que já viviam com dificuldades financeiras perderam seu trabalho e suas poucas economias, passando a viver de refeição em refeição.
Uma coisa que pode estar passando na sua cabeça nesse momento é “mas e todas aquelas doações, caridades e bolsas básicas que foram levantadas durante o começo da pandemia? Não ajudaram?”. Mesmo sendo belas ações, não foram o suficiente, por inúmeros motivos. Entre eles, a falta de organização para melhora da infraestrutura que colocou tantas pessoas na posição de miséria em primeiro lugar.
“A onda de solidariedade foi muito importante, mas se mostrou insuficiente. A gente não viu nenhum esforço do ponto de vista de mudanças estruturais, como aumentar a carga tributária. Nenhum esforço nem de governos, nem dessa elite, para mexer nos modelos de negócios e garantir os empregos das pessoas nesse momento”, diz Fernando Burgos, pesquisador e especialista em desigualdades sociais da Fundação Getúlio Vargas.
Ou seja, ficamos presos em um ciclo vicioso que força diversas pessoas escolherem, diariamente, entre ficar dentro de casa e morrer de fome, ou correr o risco de infecção no trabalho para colocar comida na mesa. Essa distribuição excessiva de lucros que é datada muito antes da crise econômica que o Brasil enfrenta, e do COVID-19, deixou empresas, trabalhadores e muitos governos em situação vulnerável ao início e durante a batalha contra a pandemia.
Se você ainda não consegue visualizar esse absurdo, vou adicionar alguns dados. Enquanto mais de 600 mil brasileiros morriam, os 42 únicos bilionários do país enriqueceram em US$ 34 bilhões. Isso foi retirado diretamente do relatório Poder, Lucros e Pandemia, organizado pela Oxfam.
“Não podemos aceitar que esse modelo econômico, que privilegia alguns poucos bilionários em detrimento de toda a sociedade, continue a ditar as regras. Nosso relatório mostra que essa economia só tem funcionado para um pequeno grupo de pessoas, os super-ricos”, diz Katia Mara, diretora executiva da Oxfam Brasil.
E é por esse fato que toda vez que escuto um comentário similar à “COVID foi uma doença de todas as classes sociais, que não diferenciava o rico do pobre, e alcançou todo o mundo”, uma raiva inexplicável sobe em mim. Porque isso é factualmente mentira. Os ricos tinham condições de ficar em casa, sem se preocupar com riscos de morte por fome. Quando se infeccionavam por suas saídas para “sociais”, ou viagens pra Santos e Búzios, tinham direito a leitos nos melhores hospitais do país, por conta da amizade com médicos em posições de poder.
Isso não era a realidade do pobre brasileiro. O contágio era feito no transporte público, voltando do trabalho que não parou – restaurantes e entregas, supermercados, limpeza. Morria em casa, ou no corredor de um SUS caótico devido a falta de apoio do governo, muitas vezes sem ser atendido. Iam trabalhar devido a um auxílio emergencial que nunca chegou. Tal auxílio emergencial que poderia ter sido pago para toda a população brasileira por mais de um mês só com o lucro dos “super-ricos” do Brasil.
Para citar o site Brasil de Fato “o lucro dos bilionários cresce inversamente à crise econômica grave que assola boa parte da população trabalhadora – o país tem hoje cerca de 13 milhões de desempregados e 40 milhões de trabalhadores informais; mais de 600 mil micros, pequenas e médias empresas já fecharam as portas”.
Comments