Política: papo de jovem?
- 3 de ago. de 2021
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No século V a.C, Sócrates foi acusado por Meleto - promotor em seu julgamento - de “corromper a juventude”. Afinal, os jovens que conviviam com o pensador questionavam os preceitos morais e julgavam profundamente as condutas que lhes seriam impostas na vida adulta, inclusive as organizações políticas incidentes na época. Em março de 2021, os jovens de São Paulo sentem-se cada vez mais distantes desse espírito político: um estudo realizado pelo Ibope e pela Rede Nossa São Paulo mostra que 67% das pessoas, entre 16 e 24 anos, na cidade, não têm a mínima vontade de participar da vida política do município (ISTO É).
Os principais fatores para essa crise e desilusão com o engajamento na política são enraizados, principalmente, na sensação de imponência e no desconhecimento dos termos políticos em suas formas mais básicas. Aos 20 anos, as estudantes Amanda Porfírio e Giovanna Paulo, entrevistadas no levantamento da ISTO É, deixam claro suas decisões de se afastarem do universo: “É bem chato não querer participar”, disse Amanda, técnica em nutrição. “Eu sempre me imaginava no lugar deles (políticos) fazendo mudanças, mas acho que a política virou somente um nome.” Giovanna Paulo, que trabalha como montadora numa fábrica de automóveis, justifica: “Sei que é importante acompanhar, mas não me vejo refletida na política.”
”A ação política hoje pode estar muito mais relacionada com pequenas ações cotidianas do que restrita a espaços institucionalizados, como partidos políticos, movimentos sociais ou outras formas de organização da sociedade civil”, aponta a pesquisadora Luiza Carolina dos Santos, da Diretoria de Análise de Políticas Públicas (Dapp, da FGV), em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo.
Apesar do avanço de manifestações virtuais, como a assinatura de petições e o compartilhamento de notícias, além dos famosos “textões” que circulam nas plataformas digitais, a apatia em relação à política pode ser fortalecida pela criação das “bolhas virtuais”, um reflexo enrijecido da polarização presente nas discussões reais. Embora sejam manifestações legítimas, as redes nos mostram, geralmente, conversas pontuais entre indivíduos, nas quais prevalece uma sensação de poder e autoridade inebriante, esquecendo-se do principal caráter da aprendizagem: a fala e a escuta.
É relevante, também, perceber que o desconhecimento de termos e seus efeitos concretos nas decisões afastam não só jovens, mas uma grande parcela da população. Ao observar essa disparidade de entendimento, a estudante Ariane Minetto Araújo, do nono ano do Colégio Positivo em Curitiba, desenvolveu uma pesquisa para aprofundar o tópico: “Se falarmos, por exemplo, da Reforma da Previdência aprovada recentemente no Congresso Nacional, quantos jovens sabem que essa reforma irá, principalmente, afetar a eles próprios? Quantos têm um conhecimento básico sobre esse tema, que é de grande importância para suas vidas profissionais e o seu futuro?”, questiona a pesquisadora. “Essa ignorância resulta em decisões que não tiveram a participação daqueles que serão efetivamente afetados. Tanto que essa reforma foi decidida e aprovada num Congresso em que 1% dos parlamentares são jovens, portanto, quantos jovens estavam lá, decidindo o futuro deles mesmos? Essa ignorância permite que nós sejamos regidos por leis e decisões que não foram formadas, nem tomadas, com a nossa participação”.
A resposta simples para introduzir mais jovens no mundo político será sempre a educação. As complicações encontram-se nos discursos emoldurados por profissionais que utilizam o diálogo como manipulação em escolas e universidades, na maturidade ausente em diversos fóruns de discussão e, principalmente, na aceitação de que o posicionamento político não deve ultrapassar o valor humano. *Para que mais jovens participem da política, é necessário entender o valor da discussão entre gerações e o esclarecimento dos termos básicos esquecidos pela educação fundamental, mas facilitados em plataformas como a do Jovem Político. Afinal, está na hora de entender que o futuro está nas mãos de quem lê, atentamente, essa matéria e o mundo ao seu redor.
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