Progressiva ou problemática? A importância da boneca Barbie nos padrões de beleza
- Jovem Político
- 12 de mai. de 2022
- 4 min de leitura
Sem dúvida alguma, toda a criança do mundo ocidental contemporâneo já ouviu falar da Barbie pelo menos uma vez. Cada ano são vendidas 58 milhões de suas bonecas, tendo mais de 40 filmes, além de livros, séries e jogos virtuais. Enquanto ela foi a protagonista da infância de várias crianças, até que ponto sua marca de empoderamento e sua imagem de modelo a seguir é saudável para as gerações passadas e as que vem a seguir?
A boneca foi ideia de Ruth Handler, co-fundadora da empresa de brinquedos Mattel, Inc nos EUA. Ela se inspirou na sua filha que brincava brincar com bonecas de papel fingindo que eram mulheres adultas com várias carreiras. A aparência da Barbie foi modelada a partir de uma boneca alemã chamada Bild Lilli de quem Mattel comprou os direitos.
Assim, em março de 1959, “Barbie”, chamada depois da filha de Ruth, foi lançada no mercado de brinquedos americano. Ela tinha um maiô listrado em preto e branco, lábios vermelhos, um rabo de cavalo loiro e um corpo de plástico de 11 polegadas (ca. 28 cm), se tornando a primeira boneca de brinquedo produzida em massa nos EUA com características adultas
Ruth falava que "Através da boneca, as meninas poderiam ser tudo que elas quiserem ser.” E Barbie foi mesmo tudo o que ela queria ser. Ao longo de sua existência, a boneca teve mais de 200 carreiras, incluindo quando foi à lua em 1965 (quatro anos antes de Neil Armstrong) e quando foi presidente dos EUA nos anos 90.
Tudo isso parece ótimo, uma boneca que inspira crianças mais novas a seguirem seus sonhos e, segundo o lema da Mattel, ser o que elas quiserem. Mesmo assim, ativistas levam questionando várias das ideologias que Barbie passa aos seus consumidores, se perguntando se verdadeiramente todos podem se ver refletidos nas aspirações e sonhos da boneca.
Para começar, Barbie claramente representa uma categoria de corpo muito específica. Ela é magra, alta e loira e, enquanto isso não é um problema inicialmente, muitas das versões da boneca parecem glorificar esse estereótipo de “mulher perfeita” de um modo muito problemático.
No início dos anos 60, foi lançada uma babá Barbie segurando um livro que dizia como emagrecer e na capa dizia “Não coma”. Além disso, em 1965, a Barbie veio com uma balança permanentemente definida para 50 quilogramas que se fosse seu peso de verdade, considerando que ela teria 180 cm (se fosse uma humana), ela estaria cerca de 15 kg abaixo do considerado saudável.
Uma aluna do Hamilton College fez um experimento em que tentou fazer uma Barbie em tamanho real, mantendo suas proporções, o que gerou muita polêmica pela representação monstruosa que saiu dela (se Barbie fosse uma pessoa de verdade, estaria tão desnutrida que não conseguiria menstruar). A estudante queria destacar os perigos dos transtornos alimentares e os efeitos da mídia popular sobre eles, considerando que em 2011, quando o experimento foi feito pela primeira vez, 2 Barbies estavam sendo vendidas a cada segundo.
Você pode por que é importante que uma boneca tenha proporções realistas? “É apenas um brinquedo!” Psicólogos argumentam que a representação é importante porque se crianças pequenas crescerem olhando apenas para um tipo de corpo e um padrão de beleza, seus conhecimentos e aspirações do que é normal serão impactados para sempre e, digamos, a Mattel definitivamente não está promovendo um estilo de vida muito saudável.
A Barbie também foi historicamente muito branca. Isso não quer dizer que não tivessem existido outras etnias, com a amiga da Barbie, Christie saindo em 1968 e se tornando a primeira Barbie negra e a “Barbie Hispânica” em 1980, mas essas bonecas eram literalmente o mesmo design que Barbie com a pele pintada mais escura, algo que trouxe muitas críticas de fãs.
Finalmente em 1991, quando a venda de Barbies negras aumentou em 20%, a Mattel introduziu uma nova linha de bonecas Barbie negras chamadas Shani, Asha e Nichelle, o que agradou os clientes. Mas a maneira como essas bonecas eram comercializadas era um pouco questionável. A escolha de palavras que usavam para comercializar Shani era muito diferente do que eles usavam para comercializar Barbie; por exemplo, um dos descritores para essas bonecas negras era que "Elas têm um talento ultrajante para a elegância exótica".
Atualmente, a Matter vem se esforçando para fazer mudanças na produção de suas bonecas. Para responder às críticas de longa data de que Barbie não refletia com precisão a diversidade da mulher moderna, a Mattel em 2016 apresentou a Barbie Fashionistas. Eles vieram em quatro categorias de corpo, sete tons de pele, 22 cores de olhos e 24 penteados.
Além disso, em 2018, a Mattel lançou uma nova coleção “Inspiring Women” que apresentou mulheres inovadoras que fizeram história, incluindo Amelia Earhart, Frida Kahlo e Katherine Johnson para mostrar personagens inspiradores que são pessoas de verdade.
Apesar da inclusão no desenvolvimento real da boneca, a Barbie loira branca ainda é a garota-propaganda das lancheiras, roupas infantis levando as pessoas a se perguntarem se talvez todos esses esforços tenham chegado um pouco tarde demais.
De qualquer jeito, é possível ver como a Mattel esta tentando fazer uma mudança. Em 2017 ela até saiu com uma camiseta que dizia “O Amor Ganha” para mostrar suporte para a comunidade LGBT. Acredito que mesmo que este “ativismo” seja totalmente corporativo e motivado por dinheiro, é bom ver como as novas gerações vão crescer com Barbies mais diversas e representativas de todas as crianças. Afinal, mesmo que ela seja um brinquedo, é inegável que também é um ícone cultural.
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