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Governança da 3G Capital

  • Foto do escritor: Artur Pacheco
    Artur Pacheco
  • 15 de mar. de 2023
  • 3 min de leitura

Você deve ter escutado o nome da 3G Capital durante esses últimos meses. Ou até mesmo lido sobre os seus donos bilionários. Caso não, recomendo muitíssimo ler o texto “O que está acontecendo com a Americanas?” que já postamos. Ajudará a dar um contexto para esta matéria.

Basicamente, a 3G Capital é uma companhia de investimentos dona de diversas empresas, como Kraft-Heinz, Burger King, AmBev, a própria Americanas e outras. Ela foi fundada em 2004, tendo como seus principais nomes Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, os quais ganharam grande parte de sua fama após a aquisição e gestão da Bhrama — atual AmBev. Nela, através de orçamentos base zero (aquele que não leva em conta receitas, custos, despesas e investimentos anteriores), bônus baseados em corte de gastos e outras medidas, introduziram um modelo radical de redução de custos, que foi aplicado em suas empresas seguintes. Dessa forma, além de terem se tornado referência do capitalismo brasileiro e grandes defensores da ideia de meritocracia, acumularam, juntos, uma fortuna de aproximadamente 160 bilhões de reais.

Entretanto, após o caso da Americanas, é importante questionar a governança (conjunto de práticas que buscam garantir transparência e ética de uma empresa) da 3G Capital. Digo isso já que não foi o primeiro episódio de “inconsistência contábil” dentre as empresas do trio. Os balanços dos anos de 2013 e 2014 da América Latina Logística (atual Rumo) tiveram que ser republicados em 2015 pelo Grupo Cosan. Ademais, em 2019, ajustes de R$15 bilhões foram feitos no balanço da Kraft-Heinz.

O que causa espanto no caso da Americanas é que apesar da existência de diversas instâncias de governança, como o setor de contabilidade, o conselho de administração, o conselho fiscal e a atuação da auditoria independente, um rombo de R$ 20 bilhões passou.

Será que isso advém de uma política do “deixa que eu deixo” em que cada um dos setores acreditava que o outro estava cuidando do problema? Será que os conselheiros fiscais não foram “chatos” o suficiente para questionar e pedir mais informações acerca das operações da empresa? Ou será que foi fruto de pessoas não capacitadas em postos importantes, as quais não teriam percebido nada de errado, mesmo que, desde 2017, a CVM estivesse investigando suas operações de risco sacado?

Infelizmente, é muito difícil acreditar nessas hipóteses e por isso todos falam em fraude. Contudo, acho igualmente duro pensar que todas as pessoas envolvidas nesses e em outros processos de governança foram no mínimo coniventes com a situação que estava acontecendo. Justamente por isso, acredito que devemos esperar o que as investigações irão nos contar antes de afirmar isso ou aquilo.

Ainda assim, cabe uma grande crítica. Em um modelo de negócios que dentre os valores está a ideia de ser obcecado por resultados, é natural que a ética possa ser comprometida. Especialmente porque em crimes corporativos, as consequências negativas, muitas vezes, demoram a aparecer. O que realmente surge num curto prazo são os bônus, os elogios, o lucro, a facilidade de captar recursos e mais.

A conclusão que chego é que há grande possibilidade de que, devido ao modelo de negócios da 3G, todos os processos de governança não tenham sido suficientes para evitar o rombo. Não basta toda a formalidade governamental quando não há, de fato, uma cultura de ESG que valoriza a ética e a integridade empresarial.



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