É inimaginável um mundo sem cor, mas acredite, ele existe!
- 5 de out. de 2021
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Podemos dizer que a cor é um elemento muito importante na vida do homem, ela pode definir ações culturais, como as viúvas que na Índia usam sáris de cor branca, enquanto no Brasil a cor tradicional do luto é o preto. Portanto, a cor está em todos os lugares e é uma forma de expressão não verbal. Ao analisarmos a cor em sua essência podemos dizer que ela não possui uma existência material, uma vez que é, na verdade, uma sensação produzida quando a luz atinge a retina do olho humano. No entanto, milhares de pessoas no mundo não têm acesso a esta sensação, não possuem acesso a informação provocada pela luz ao atuar sobre o órgão da visão. Enxergar é uma das principais formas de se relacionar com o mundo exterior, já que é por meio da visão que pode-se ter conhecimento sobre o vôo alçado por um pássaro ao longe, ler o anúncio estampado na traseira de um ônibus, ou até mesmo conseguir “combinar” as roupas que usará em uma quinta-feira chuvosa para passear no centro da cidade! Contudo, como as pessoas que possuem limitações visuais se relacionam com o “mundo das cores”? Este é um questionamento que não fazemos com muita frequência, justamente por que as cores estão inseridas em nosso cotidiano que se torna difícil pensar uma realidade em que elas estão invisíveis!
Foi pensando nisso que a Prof.ª Dra. Sandra Marchi criou a linguagem “See Color”, um código de leitura tátil que permite a identificação das cores. O projeto faz parte da Tese de Doutorado intitulada: “Design universal de código de cores tátil: contribuição de acessibilidade para pessoas com deficiência visual”, desenvolvido no âmbito da Universidade Federal do Paraná. De acordo com Marchi, seu objetivo com o See Color é criar uma linguagem universal das cores que possibilite mais autonomia e emancipação a pessoas com algum tipo de deficiência visual. Ele possibilita que a pessoa enxergue por meio do tato, que, nestes casos, é um sistema perceptivo mais eficaz do que a audição. Por meio dele a pessoa detecta a informação dada pelo ambiente e ela é decodificada pelo cérebro, como se ele estivesse encaixando peças de um quebra cabeças.
O projeto tem também o intuito de contribuir para a alfabetização de crianças, uma vez que permite a compreensão das cores e suas nuances de uma forma mais lúdica, sendo de fácil aprendizagem e memorização. Ele pode ser utilizado em diferentes superfícies como: calçados, roupas, medicamentos, acessórios e produtos de higiene pessoal. A proposta do See Color é ser mais fácil e simples que o Braile, que é mais eficaz quando a pessoa nasce cega e já é alfabetizada nesse sistema de escrita e leitura. Contudo, a maior parte da cegueira ocorre em decorrência de patologias e/ou traumas ocorridos na vida adulta, o que implica que a pessoa acometida já tenha sido alfabetizada nos modelos tradicionais, e encontre, portanto dificuldade em desenvolver suas habilidades no Braile. O projeto foi desenvolvido com base na Teoria das Cores de Newton e no método Braile, e usa o triângulo cromático por meio da lógica do ponteiro de um relógio.
A dificuldade de acesso a informações sobre cores permeia a realidade de diversas pessoas com deficiência visual no mundo, uma vez que diferentes escolhas são realizadas com base nas cores, conforme foi citado anteriormente. Esse tipo de situações acaba por incluir os deficientes visuais no rol de dependência que gera a diminuição da auto-estima, que muitas vezes pode ate mesmo levar a depressão. É por isso que projetos de acessibilidade, como o See Color, são de primordial importância. A cor permeia todo o universo do homem e, ter uma forma de comunicá-la a pessoas com deficiência visual torna-se uma maneira deste deficiente se comunicar com o mundo que o circunda, bem como interagir de forma mais independente e dinâmica em sua própria realidade.
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