Problemáticas do sistema educacional brasileiro: a escola realmente nos prepara para a vida?
- 18 de fev. de 2022
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Esse é um debate antigo, que ganhou mais visibilidade com a implementação do novo Ensino Médio. Afinal, as coisas que aprendemos na escola nos preparam para a vida? E as coisas que não aprendemos, nos deixam em desvantagem mais tarde?
Isso gira entorno do questionamento do papel real da escola nas vidas dos cidadãos. Ela deveria nos preparar para vida, fazer parte dos nossos anos formativos ou somente nos aperfeiçoar para a próxima prova?
É fato, a escolaridade brasileira atual é antiquada. Alunos decoram conteúdos com objetivo de passar em testes ou nos vestibulares mais importantes. Passamos meses fazendo exercício atrás de exercício, decorando toda a teoria para, na semana após da prova, não lembrarmos de mais de nada.
Ou seja, atualmente, as horas que são passadas na escola tem como objetivo ensinar teoria, e não as habilidades práticas atreladas ao que é aprendido. Os alunos acabam não sendo ensinados como aplicar todo o conhecimento recebido em situações reais.
Isso gera a maior crítica do estilo de ensino na maior parte do mundo: a escola não deveria estar preparando nossas crianças e adolescentes para a vida e não para testes padronizados? É defendido como a escola deveria também ser espaço para o desenvolvimento:
• das habilidades individuais dos alunos;
• boa comunicação;
• “aprender a aprender”;
• inteligência emocional
• e o encontro de propósito e paixão pela vida.
E não se engane: o Novo Ensino Médio não traz mudanças que vão alterar o ensino no sentido que estou discutindo. Em resumo, tem como objetivo implementar “itinerários formativos”.
Mesmo que vá promover o protagonismo do aluno e seu poder de escolha, as aulas em si continuarão as mesmas – mudando dependendo da sua carga horária. (Não entendeu? Temos um explicando sobre isso no nosso site! https://jovempolitico10.wixsite.com/my-site/post/explicando-o-novo-ensino-médioprovavelmente-todo-mundo-já-ouviu-falar-do-novo-ensino-médio-que )
Então quais são coisas que a escola não ensina? Em geral, o que mais falta em instituições de estudo é:
• economia doméstica;
• como se virar na cozinha;
• pequenos reparos;
• e conhecimento e interpretação da legislação brasileira
Mas, apesar de tudo isso, não penso que deveríamos abandonar completamente o formato atual de sala de aula e o currículo básico do Ensino Fundamental II e o Ensino Médio. Afinal, é direito do cidadão aprender.
Escuto muito a frase “por que preciso aprender isso? No que vou usar isso na minha vida?”. Até admito que falei isso uma ou duas vezes em aulas de matemática ou física. Mas é preciso lembrar de algumas coisas: é por meio dessas aulas que você pode achar um assunto de interesse, área de paixão ou até mesmo seu futuro emprego. E se esses argumentos não são o bastante para te convencer, posso te falar algo ainda mais simples: é a lei.
Não estou brincando! É uma iniciativa governamental que deu origem a diversas leis de Base do Sistema Educativo (lei nº 46/86, de 14 de outubro), que visa a democratização do ensino. O processo educacional tem como objetivo ampliar horizontes e criar oportunidades por meio de divulgação do conhecimento.
Mas, enfim, existem locais com um sistema público de educação de qualidade, que tem prioridades sociais e não educacionais? A resposta é sim!
Um exemplo desse novo estilo de ensino em escolas é a educação finlandesa. Seu sistema público está nos níveis de excelência, devido a reformas educacionais e sociais na década de 60 e 70.
Basicamente, a técnica que dá tão certo parece ser falha, mas não é. Simplesmente foi diminuído o número de horas de aula, além de lições de casa e provas ficarem em poucas quantidades.
Pasi Sahlberg foi um dos idealizadores dessa reforma nos anos 90, e afirma no seu livro de Lições Finlandesas, “O Estado de bem-estar social finlandês desempenha um papel crucial para o sucesso do modelo, ao garantir a todas as crianças oportunidades e condições iguais para um aprendizado gratuito e de qualidade”.
Outras características de destaque são o fato de todas as crianças estudarem na mesma instituição de ensino. “Ali o filho do empresário e o filho do operário estudam lado a lado” escreve Claudia Wallin em sua matéria sobre as escolas finlandesas para o BBC Brazil.
Além disso, todas as escolas oferecem refeitórios com alimentação farta e saudável, serviços de atendimento médico e odontológico grátis e material escolar também gratuito.
Infelizmente o Brasil não tem condições ou força política para implementar todas essas mudanças nos próximos anos. Mas torço para que em anos futuros haja uma reorganização do sistema escolar brasileiro, visando a igualdade de estudo a todos e a melhora da qualidade para a vida, e não só com o vestibular como foco.
Talvez evoluamos com o sistema finlandês em mente, ou outro estilo completamente diferente. É fato que com sistema de educação universal e oportunidades iguais para todas as crianças qualquer país consegue diminuir a desigualdade social e dar melhor qualidade de vida a todos seus cidadãos.
Posso finalizar o texto falando com segurança que o ensino brasileiro realmente não nos prepara para a vida, e sim – principalmente o Ensino Médio – para vestibulares. É fato que estudantes de escolas particulares estão em vasta vantagem, devido ao crescimento de novas estratégias pedagógicas que mudam a visão do papel da escola na vida do aluno.
Ainda assim, a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) tem como objetivo principal a preparação para vestibular e, enquanto essas medidas não forem mudadas, não há esperanças de escolas brasileiras da atualidade, que sigam o padrão esperado do século XXI.
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